Impressionada com o calor que a cadela deveria sentir debaixo de tanta lã, resolvi pedir orçamentos para tosquia, com banho, sem banho, com limpeza de ouvidos e corte de unhas… Todos me pareceram astronómicos para um trabalho que apenas requer uma máquina apropriada. E esta afirmação, antes de vir de mim, veio da minha filha que com uma expressão de extrema confiança no olhar me afiançou: Isso é muito fácil. A Ana já me explicou. Começa-se pelos quartos traseiros e segue-se até à base do pescoço. Nas patas, só até ao cotovelo. A cabeça apara-se com um pente e uma tesoura. Nada mais fácil! Só precisava do material.
Foi assim que rumei a casa de uma amiga que tem um desses aparelhos, último grito da tecnologia – Olha que este é MUITO BOM. E é fácil de usar? Não sei, só o usei uma vez e já não me lembro. Olhei o aparelho que na verdade não difere nada daqueles que se usam para cortar cabelos aos humanos e pensei que se andei anos a cortar o do meu filho também seria capaz de cortar o pelo da cadela.
Entrámos as duas para a casa de banho. Plásticos pelo chão; instrumentos à mão e um grande entusiasmo. Logo nos primeiros minutos compreendi o enorme abismo que separa a teoria da prática. A partir daí foi sempre a sofrer. A cadela oscilou, durante cerca de duas horas, entre os ganidos e o sossego. Eu, a dada altura, já não sentia as costas e cheguei mesmo a acreditar que ficaria para sempre vergada, não apenas à evidência de que para tudo é preciso técnica, mas também à posição que assumi para chegar à bicha. Quando finalmente dei por terminada a tosquia e a enfiei na banheira para o banho final, já mal me endireitava. Pelos, era vê-los a esvoaçar pelo recinto colando-se às calças, à blusa, às meias, às paredes, a tudo enfim, que eu já nem os via e para ser franca comecei a estar-me absolutamente nas tintas para eles, que voassem à vontade, o que eu queria mesmo era que a cadela me deixasse acabar o trabalho e que este valesse a pena, que ela se sentisse mais aliviada, sei lá, mais fresca…
Depois do banho saiu porta fora e deixou-me a braços com o aspirador, os panos, o cif, a esfregona, o balde, o aparelho e o meu banho que mesmo assim não foi o suficiente para me endireitar as costas de imediato.
Agora, que olho para ela, dou conta da irregularidade do corte e só me lembro daquela franja que cortei à minha filha de dois anos e que tive de disfarçar durante meses não fosse a vizinhança pensar que, num acesso de loucura, tinha internado a criança num desses asilos para órfãos, que povoam a imaginação de todos aqueles que leram Charles Dickens.
Tal como nunca mais toquei numa ponta da franja da criança, nunca mais me empenharei em tosquiar a cadela. Aproveito para deixar aqui um grande bem-haja às tosquiadoras de cães. Merecem todos os tostões que ganham.
1 comentário:
:):) Tarde animada, portanto...
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