Faz parte da nossa cultura a crença na importância da gravidade das coisas. Se não forem graves, sérias, não são importantes. Vai daí agravamos tudo, para sermos importantes. Eu sou importante se tiver um problema. Só assim me darão atenção e eu preciso de atenção porque não sei estar sozinho. Somos um povo de dependentes, especialmente as gerações femininas mais velhas. Habituadas a ser cuidadas toda a vida, passaram das mãos dos pais para as dos maridos e querem, à fina força, passar para as mãos dos filhos que nem sempre estão disponíveis para os segurar, libertos que se sentem dos filhos que já criaram e confortáveis que estão na independência que construíram e lhes custou os olhinhos da cara.
Eu, volta não volta, a acreditar na octogenária que tenho cá em casa, passaria a viver num mundo de contrariedades, negativo desde as primeiras horas do dia às derradeiras da noite, sem ver a luz do sol, nem que ele brilhasse, como brilha, majestosamente lá do alto.
Confesso que sou um ser talvez demasiado metido consigo mesmo. Esta coisa de se escrever é própria de quem vive um bocadinho fechado no seu mundo sem grande abertura para grandes dependências. Dou-me bem com quem não precisa de mim como de pão para a boca. Caramba! até a cadela já respeita isso e espera, pacientemente, para ir à rua, sem protestar! Enfim…logo pela manhã fiquei a saber que o bicho NÃO come nada, apesar de andar super bem-disposta, que a minha mãe NÃO consegue desfazer pontos miudinhos em pano negro e que NÃO há sobremesa para o almoço. Tudo coisas sem importância nenhuma mas ditas com a gravidade que a ocasião merece.
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