São tantas as coisas que por aí se dizem sobre tudo e mais alguma coisa! Sem grande precisão científica todos sabem de tudo, todos opinam, e misturam-se as críticas de quem tem conhecimentos para as fazer, com as conversas de café, num diz que disse sem fundamento, só para alívio da crescente frustração de quem neste país trabalha e vê minguar os meios sem saber muito bem porquê e, muitas vezes e cada vez mais, sem querer saber porque o desgaste já se faz sentir a quem anda de cá para lá a pedir explicações.
Tanta confusão, ao invés de me dar vontade de participar, paralisa-me. Não quero ser vulgar, e ser vulgar é falar por falar, ser um simples eco do que por aí se diz, mais uma voz que vai perdendo o fundamento de tão misturada que fica. Muitos instrumentos a tocar ao mesmo tempo, sem um maestro que os dirija, provocam um ruído cansativo e incompreensível.
Não posso, no entanto, deixar de referir certos particulares que, ou eu ou os meus, vamos testemunhando em primeira mão, e a partir deles questionar os porquês, porque mais do que o barulho, é o questionamento que pode, e leva, a alguma compreensão.
Esquecemo-nos vulgarmente que, por estranho que pareça, o barulho em demasia serve os interesses de todos aqueles que esse mesmo barulho julga atacar, porque nos dispersa e nos “adormece” no ruído, fazendo-nos acreditar que ele é suficiente quando na verdade nos consome as energias que deveriam ser empregues em ações.
E dito isto passo aos factos, que são os meus ainda que não invulgares.
Aos meus pais foi-lhes retirado cerca de 30% do subsídio de férias. Sim, eu sei que há quem não o receba, mas os meus pais são reformados da Segurança Social. Nunca foram funcionários públicos. Ainda assim, tudo bem. Se tiram a uns, tiram a outros. Não é essa a questão. A questão é a falta de informação A GRITANTE falta de informação.
A minha mãe deslocou-se à Segurança Social para perceber o que se passava. Veio de lá a saber que o governo não tinha nada a ver com isso; que o corte era da responsabilidade da SS, mas ninguém lhe soube explicar porquê nem para quê.
A casa estava repleta de gente a protestar pelo mesmo e uma das funcionárias chegou mesmo a gritar, alto e bom som, enquanto atendia um desses protestos: Ó minha senhora, esqueça os 700 euros! Esqueça-os!, a Segurança Social não lhos vai devolver!
A minha mãe, com oitenta anos, teve vontade de virar costas – não se pode fazer nada, estou aqui a perder tempo, eles fazem o que querem e sobra-lhes o que eu aqui estou a perder.
Quanto à polémica sobre a licenciatura do ministro de Estado, não me estranha o reconhecimento profissional. O que me estranha é a forma como, aparentemente, foi creditado. A mim informaram-me, na Universidade de Lisboa, que eu poderia requerer algo semelhante. Para tal, teria de elaborar um dossiê com vários trabalhos dirigidos às unidades curriculares que eu entendesse e cujos conteúdos abarcassem as matérias dessas mesmas unidades. Eu preferi fazer a coisa de forma tradicional porque acreditei que não sabia tudo e que há sempre qualquer coisa para aprender. Não me enganei. Quando queremos, podemos ir beber conhecimento a qualquer lado, e ouvir certos professores é sempre um privilégio.
Todos os dias sinto que sou manipulada e que nada posso fazer. Aliás, todos os dias sinto que somos manipulados e que pouco ou nada podemos fazer. Mas não creio que seja verdade – a parte de não podermos fazer nada. É fundamental que comecemos a ler o que se passa à nossa volta, sem qualquer tipo de preconceito, e por preconceito entenda-se partidarismos ou interesses particulares – conscientes ou inconscientes. É fundamental que cada um de nós se liberte do ruído, se esqueça um pouco de si e se sintonize com o todo que somos nós. É fundamental que se alertem as consciências para o facto da divisão e do conflito servir sempre meia dúzia e, ao fazê-lo, colocar em causa não só a nossa humanidade, mas a nossa existência. É fundamental perceber o QUÊ e o PORQUÊ. O que está por detrás do que se passa?! A quem serve este estado de coisas?
É isso que é fundamental. Nesta altura do campeonato já pouco interessa a licenciatura do Relvas ou o roubo do BPN. O que interessa mesmo é percebermos o que está por detrás de uma época que, mais uma vez, nos arrasta para conflitos onde, mais uma vez, nos deixaremos cair e onde, mais uma vez, morreremos, de uma maneira ou de outra, para, mais uma vez, defendermos interesses que não são, nem nunca foram, os nossos. E quando digo os "nossos" refiro-me aos da humanidade em geral. É sobre isso que devemos pensar. E é sobre as conclusões a que chegarmos que deveremos delinear estratégias. Não nos deixemos levar por quem já provou muito bem saber como se manipulam as massas.
3 comentários:
excelente
Muito bom. Adorei!!!
Antígona...
Este é um país de "palpiteiros", de "fazedores de opinião". É vê-los, principalmente nas televisões, com aquele ar de "guru", como que a dizer:eu é que sei! eu tenho a solução milagrosa para reduzir o défice! E a verdade é as pessoas vão balançando entre as suas tiradas, mudando de opinião e de conversa. Sem terem uma opinião genuína e própria. E o curioso nesta história é que muitos dos responsáveis pela imenso pântano que ajudaram a criar, hoje, alinhavam um ar seráfico e debitam o seu palpite, como que a dizer: Eu? Eu estou inocente... eu aterrei neste país ontem!
Eu estou-me borrifando para a licenciatura do Relvas. Tudo isto me cheira a vingançazinha, como que a querer dizer: vocês tiveram a licenciatura do Sócrates? Nós temos a licenciatura Relvas...
Sabes, Antígona, eu descontei durante mais de quarenta anos para Segurança Social. Fielmente. Fora um ou outro patrão, que achou por bem empochar os meus descontos, tudo foi parar aos cofres do Estado. Fiz questão de que nenhum dos meus rendimentos, por singelo que fosse, escapasse. Hoje tenho uma reforma de pouco mais de seiscentos euros. Pergunto: Onde está o dinheiro que eu descontei durante mais de quatro décadas? O sistema de Segurança Social serviu para tudo. Para pagar pensões de sobrevivência a quem nunca descontou, RSI, (o ordenado do estado, como dizem eles...) financiar infantários ilegais e depósitos de velhos (vulgo lares da terceira idade), menos para garantir uma pensão decente aos que cumpriram fielmente as suas obrigações para com o Estado.
Enfim...
Desculpa o desabafo!
Um abraço de urso (muito forte...)
joão
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