Conheço uma pessoa que nasceu em Portugal, criou-se por cá, estudou por cá, na verdade sempre viveu aqui… mas não é de cá.
Conheço-a desde miúda e desde miúda que é completamente vidrada nos EUA. Completamente. Os pais faziam parte do clube dos respeitados e prósperos patrões de uma pequena cidade, e as festas na casa dela eram de arromba com acampamento no jardim e tudo. Uma das máscaras, das várias máscaras, que ela tinha para o carnaval, e que eu cheguei a vestir, era de índia e era linda! Provavelmente teria também uma de cowboy, não me recordo. Mas sempre a ouvi dizer que havia de ir para a América.
Nunca foi! Vá lá saber-se porquê! Os pais perderam com o 25 de Abril a fábrica que tinham, e a Câmara lá do sítio tanto andou que conseguiu ficar com a propriedade por um preço muito inferior ao que ela de facto valia. Mas ninguém da família, e eram vários irmãos, ficou mal – não ficaram. Só não se puderam dar ao luxo de viver dos rendimentos, isso não. E ela acabou por dar início a uma tímida carreira de actriz, sonhando com Hollywood.
São raros os sonhos de infância que se concretizam. Uns mais raros do que outros porque mais ambiciosos. Talvez ela devesse ter rumado à América enquanto era tempo, quem sabe não teria feito carreira?! Agora vai alimentando de forma tão discreta as suas personagens que é raro vê-la no écran. Mas continua a sonhar com a América.
“Encontro-a” de vez em quando no Facebook. Tudo o que por lá diz, ainda que escasso, é em inglês. Confessou-me, há já algum tempo, que adorava ter um grupo de amigas, daquelas que se juntam a meio da tarde para tomar chá. Cá para mim a minha amiga enganou-se na geografia no momento em que decidiu cá voltar. Para a próxima, com certeza, não nascerá portuguesa.
1 comentário:
Também já pensei nisso, ser guitarrista num país onde dessem mais valor à música ...
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