Ontem, queixava-se uma amiga da inutilidade do marido.
Desempregado de longa duração, exerce uma atividade ligada ao imobiliário que
anda, ultimamente e como todos nós sabemos, pelas ruas da amargura.
Ela, lutadora de gema, que sustenta vai para três anos a casa, a
empresa, os vícios…, dizia que o que mais lhe custa é a passividade do bicho
que, para além de não se mexer em busca de alternativas, se deixa ficar sentado
em frente à televisão à espera que ela chegue, cansada por mais um dia de
trabalho, para fazer o jantar.
Préstimo, zero. Mais-valias – nenhumas.
Não está sozinha. E se antigamente eram as mulheres a ficar
em casa a servir o marido. Hoje são eles
que se vão deixando ficar, sem servir seja quem for.
Não falo, graças a Deus, destas novas gerações que cresceram
a ver pai e mãe a trabalhar e cuja mentalidade se encontra a milhas daquela que
nos criou a nós – os cinquentões e por aí adiante, habituados a uma mordomia
que as mulheres foram alimentando mesmo tendo de trabalhar fora de casa e
levando para dentro da mesma alguns trocos, ainda que não os mesmos porque a
trabalhos iguais não correspondiam salários iguais, e nem sei, na verdade, se
já correspondem mas temo bem que não, pelo que me resta desejar que as
diferenças não sejam tão gritantes quanto o eram há trinta anos.
Falo precisamente dos desempregados de meia-idade para quem
nada mais resta do que esperar pela reforma, com ou sem direito a subsídio.
Falo desses desempregados sortudos cujas mulheres, muitas delas por iniciativa própria,
se vão lançando a trabalhar para que não falte o pão na mesa. É desses que
falo. E hoje, quando pelo correio eletrónico recebi uma série de fotos da
antiga Crónica Feminina com conselhos tão úteis como: “’A mulher deve fazer o
marido descansar nas horas vagas, servindo-lhe uma cerveja bem gelada. Nada de
incomodá-lo com serviços ou notícias domésticas’ (Jornal das Moças, 1959)”,
veio-me à ideia que se calhar estamos na altura de lançar uma Crónica Masculina
com conselhos que ajudem os nossos homens, coitados, a sobreviverem neste mundo
de mulheres trabalhadoras. Caso contrário, não sei que futuro os aguarda. É que
já não é a primeira vez que oiço por aí desabafos de zanga e verdadeira
saturação…
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