domingo, 9 de setembro de 2012

Isto foi anteontem, mas anteontem eu não tinha computador

Um anúncio de declaração de guerra não teria mais impacto nem geraria mais ansiedade do que a declaração que o nosso primeiro-ministro proferiu na televisão.
 
Engasgou-se várias vezes durante as notas introdutórias onde tentou enunciar os factos positivos, ou melhor, as premonições e desastres mascarados de factos positivos e metas alcançadas.
 
Seguiram-se justificações do que está para vir, sempre apoiadas nas medidas a impor às empresas de forma a reduzir a desemprego, como se alguém ainda acreditasse nessa possibilidade.
 
Toma lá com 18% para a Segurança Social que baixa para as empresas e sobe para os trabalhadores – 7%. Não é nada, é só mais um salário que se vai ao fim do ano. No sítio onde trabalho houve quem dissesse que valia mais seguir para o desemprego – sai mais barato. É que pelo menos não se gasta dinheiro em almoços e gasolina…
 
Todas as pessoas que conheço se queixam do mesmo – ainda não se ouviu, em declaração nenhuma, de que forma vai o Estado contribuir para esta crise. Em conversa com um amigo que trabalha há vinte anos numa câmara municipal e que receia dar a cara, fiquei a saber que quando ele entrou para lá existiam dois diretores. Hoje existem dezanove. Todos de carro, chofer e gasolina a rodos.
 
Talvez estas palavras soem a frouxo já. Soem a vulgar. A queixinhas, mariquinhas pede salsa. Mas é que o cansaço mina e os braços tendem a deixar-se cair. Cada medida que sai cá para fora para enterrar ainda mais a maioria de nós, a partir de um determinado momento só nos enfraquece, só nos anestesia ainda mais, estrebuchamos no momento, dizemos umas asneiras, manifestamos fantasias de morte por afogamento, tiro ou explosão, mas no dia a seguir, ou nos sentimos um bocadinho mais fracos, ou regressamos àquele lugar de crença, ou ambos. E tal como os judeus seguimos como cordeiros para o matadoiro.
 
No entanto, podemos dormir descansados. Penso que, para já, não nos cremarão. Limitar-se-ão a tirar-nos, primeiro, o pão da boca.

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