Um
anúncio de declaração de guerra não teria mais impacto nem geraria mais
ansiedade do que a declaração que o nosso primeiro-ministro proferiu na
televisão.
Engasgou-se
várias vezes durante as notas introdutórias onde tentou enunciar os factos
positivos, ou melhor, as premonições e desastres mascarados de factos positivos
e metas alcançadas.
Seguiram-se
justificações do que está para vir, sempre apoiadas nas medidas a impor às
empresas de forma a reduzir a desemprego, como se alguém ainda acreditasse
nessa possibilidade.
Toma
lá com 18% para a Segurança Social que baixa para as empresas e sobe para os
trabalhadores – 7%. Não é nada, é só mais um salário que se vai ao fim do ano.
No sítio onde trabalho houve quem dissesse que valia mais seguir para o
desemprego – sai mais barato. É que pelo menos não se gasta dinheiro em almoços
e gasolina…
Todas
as pessoas que conheço se queixam do mesmo – ainda não
se ouviu, em declaração nenhuma, de que forma vai o Estado contribuir para esta
crise. Em conversa com um amigo que trabalha há vinte anos numa câmara
municipal e que receia dar a cara, fiquei a saber que quando ele entrou para lá
existiam dois diretores. Hoje existem dezanove. Todos de carro, chofer e gasolina
a rodos.
Talvez
estas palavras soem a frouxo já. Soem a vulgar. A queixinhas, mariquinhas pede
salsa. Mas é que o cansaço mina e os braços tendem a deixar-se cair. Cada medida
que sai cá para fora para enterrar ainda mais a maioria de nós, a partir de um
determinado momento só nos enfraquece, só nos anestesia ainda mais,
estrebuchamos no momento, dizemos umas asneiras, manifestamos fantasias de
morte por afogamento, tiro ou explosão, mas no dia a seguir, ou nos sentimos um
bocadinho mais fracos, ou regressamos àquele lugar de crença, ou ambos. E tal
como os judeus seguimos como cordeiros para o matadoiro.
No
entanto, podemos dormir descansados. Penso que, para já, não nos cremarão. Limitar-se-ão
a tirar-nos, primeiro, o pão da boca.
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