Não sei se é dos tempos que vivo se do local onde passei a
trabalhar aos domingos, e num ou noutro dia em que precisem de mim, mas é
agora, mais de meio século passado sobre o meu nascimento, que a língua se me
solta e os impropérios, que antes me faziam corar, me parecem mais apropriados
do que nunca, eu diria até – insubstituíveis.
Que se fodam os contribuintes, dizem eles. Que se fodam eles,
digo eu. E se não conseguir em tempo útil realizar aquele sonho, que não é
velho porque não se afigurava lógico mas que é recorrente, de me
independentizar destes cabrões, hei-de morrer a tentar. Quanto menos eu
precisar deles, menos moça me fazem.
E se estão confusos com a verborreia, eu passo a explicar.
Vivo num bairro (odeio a palavra urbanização), que conta
apenas com uma saída, e uma entrada evidentemente, civilizada, i.e., feita de
estrada esfaltada onde as viaturas podem circular sem sofrerem danos; e uma
outra, de emergência digamos assim, feita de terra batida, mais caminho do que
estrada, que deixa os carros empoeirados e dá cabo dos pneus e da suspensão,
obrigando a uma condução ébria de forma a evitar as sucessivas crateras que
nela se instalaram há muito.
Ora, volta não volta, a um domingo qualquer, que já não é o
primeiro, as autoridades decidem fechar a estrada esfaltada e, sem mais nem
menos, sem qualquer "desculpe lá o incomodo", impedem-nos de sair daqui a não ser
que queiramos afogar o automóvel no mar de terra batida.
A falta de respeito não tem limites! Querem lá saber se a
gente paga impostos! Querem lá saber se somos cidadãos! Aliás, neste país,
todos os cidadãos se estão rapidamente a transformar em cidadãos de terceira.
Não é de segunda, atenção! É de terceira!
Foderam-se porque, ao dar a volta, verifiquei que afinal
aqui no bairro há um mini mercado que abre ao domingo. Estamos a mais de meio
caminho de nos tornarmos independentes e não precisarmos deles para nada.
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