terça-feira, 4 de junho de 2013

Confissão

Se me pudesse confessar diria que vivo de coração fechado.

Não que não o dê, mas não o dou demasiado.

Se me pudesse confessar, gritaria a raiva do mundo.

Não que não perdoe. Mas esquecer, não esqueço -  não sou capaz de ir tão fundo.

Se me pudesse confessar, diria que o amor endureceu.

Não que não viva. Mas tudo nele morreu.

Se me pudesse confessar, abriria a minha boca e de lá sairiam coisas extraordinárias,

Tão extraordinárias como as coisas que ninguém espera que saiam da minha boca.

Se me pudesse confessar, o mar revoltar-se-ia levando consigo o Tejo.

Se me pudesse confessar.

Se me pudesse confessar, usaria as unhas para rasgar a carne coberta de todos os males.

Se me pudesse confessar, todos os montes, de todas as serras, chorariam.

Se me pudesse confessar.

Se me pudesse confessar, todos os rios secariam

                                          todos os peixes morreriam

                                          todas as folhas cairiam

Se me pudesse confessar.

E as flores,

                  essas,

                             não mais floririam.

                            

                                          E nem o sol aqueceria.

            

           Se eu me pudesse confessar.

 

5 comentários:

CF disse...

E podes, ora... E espero que o faças a sério... :)

Jardineiro do Rei disse...

Amiga...
Que fizeste tu nas palavras que escreveste? Para mim foi uma confissão...

Um beijito

Cristecus disse...

Pois bem,
Confessa-te ao espelho!
Vai ao fundo de ti mesmo, sem medos nem extravagâncias.
No atrevimento de visitar-te perceberias o quão insignificante és para que as serras deixem de chorar.
Vislumbrarias a maravilha de estar vivo.
Perceberias então o quão bom é perceber que os rios correm
Os peixes vivem e as flores sobrevivem à raiva.
Basta para isso Amares.
O Amor é coisa boa e o Tejo está para ficar.
O Sol, esse, é o espelho das tuas confissões, jamais morrerá.
Esquece!

Alda Couto disse...

Obrigada a todos :) Isto não é nada mais do que um poema que me deu gozo escrever. Mais ainda - inspirou a C. para um outro que me arrancou um sorriso.
Cristecus, um dia destes escrevemos à desgarrada, hem? :) :)

Sputnick disse...

Hummm, de volta à escrita :)
Gosta-se e sente-se. Beijinho.