domingo, 22 de fevereiro de 2009

A minha mãe

A minha mãe tem 77 anos e conduz um carro sem direcção assistida.
Cada vez que me visitam, ela e o meu pai, fico a vê-la tirar o carro do estacionamento a rodar o volante como se de uma roda dentada se tratasse. Os braços finos que tem fazem nesses instantes o exercício correspondente ao levantamento de vários pesos no halterofilismo. O meu filho diz que ela é a super-avozinha.
A minha mãe só conheceu um homem na vida dela, aquele com quem está casada há 52 anos e de quem cuida durante 24 horas por dia desde os 42, altura em que ele teve uma trombose que o deixou incapacitado.
Quando éramos miúdos, eu e o meu irmão, ela era uma pessoa muito alegre e bem-disposta. Passava os dias a cantar. As canções antigas que conheço, ouvi-as pela primeira vez da sua boca. Sei as letras quase todas.
Quando começámos a crescer e o meu pai ficou doente, ela perdeu grande parte da alegria. Educada à moda antiga ficou sem saber muito bem como lidar connosco sem a ajuda preciosa do marido, até ali e homem da casa. Havia conversas que o meu pai tinha connosco e que acabaram porque, para ela, eram impossíveis. Tábus intransponíveis.
Hoje fala-se de tudo e há anos que o riso voltou à sua expressão.
A minha mãe é a mulher mais forte do mundo. A que mais evoluiu. A que sabe aproveitar todos os bocadinhos para ser feliz.
A minha mãe tem a gargalhada mais limpa e pura do universo. Tem uma genica invejável. Quando lhe dá para limpar a casa, saiam da frente.
A minha mãe era linda quando era nova. É mais linda ainda hoje, com a sua figura esguia e os seus olhos brilhantes.
E eu amo-a infinitamente e espero tê-la por cá pelo menos mais 20 anos, pois não sei o que faria sem ela.

3 comentários:

JP disse...

Bem haja!
Por todos quantos gostariam de poder sorrir assim como tu e como a tua mãe.
Muitos anos de vida.

Leididi disse...

Está muito bonito. Se a avó tivesse computador, ia gostar muito de ler :D

Leididi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.