quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Um pedaço de terra

Há uns anos atrás, quando comecei a pensar em vender a minha casa, poisaram-me os olhos, e a vontade, num hectare de terra lá para os lados do Alandroal. Tinha uma série de oliveiras, duas ou três pereiras, poço e sítio de casa. Não tinha luz mas o que eu queria mesmo era ficar independente da EDP; da Companhia das Águas e dos supermercados, por isso fiz uma proposta ao vendedor, ele aceitou e eu assinei o contrato de promessa, que me dava um ano para vender a minha casa e acabar de liquidar o terreno.
A casa não se vendeu. Perdi o dinheiro e a terra.
Na época vários amigos me alertaram para a loucura da minha decisão. O que iria eu fazer, sozinha, para lá do mundo, isolada de tudo e de quase todos!... Um chegou mesmo a dizer que não me bastaria comprar um cão, que teria de ter uma espingarda. Talvez a casa não se tenha vendido por isso mesmo. Talvez eu tenha, em determinado momento do percurso, ficado com medo. Talvez tenha recuado na minha decisão e tenha tratado mal cada potencial comprador que me ia batendo à porta.
Hoje creio que foi o melhor que me aconteceu. Creio, sinceramente, que não estava preparada, como ainda não estou e não sei se virei a estar, para deitar tudo para trás das costas, sozinha. Mas, não estando sozinha, penso muitas vezes nesse sonho, ainda vivo, de ter um pedaço de terra, de me auto-sustentar, de me independentizar, o mais que me for possível, deste sistema que nos suga o corpo e, tantas vezes, a alma.
Hoje, ao que parece, há muito mais gente a pensar assim. As permaculturas, as hortas e os jardins comestíveis, os regressos à terra e os abandonos da cidade, proliferam. Hoje, essa minha ideia, não parece tão disparatada.

1 comentário:

CF disse...

E não é. Apenas acarta uma carga grande, e que talvez não compense os ganhos, nem bem sei dizer, se compensa ou não. Mas sei dizer-te que muitas das vezes necessito de algo semelhante. Talvez não bem igual, mas um afastamento, para um local onde eu valha apenas e só pelo que sou, e em que o que nos circunda não mereça importância. Depois acordo e concluo que esse lugar nem deve existir...