domingo, 19 de junho de 2011

Dói-me a alma

Dói-me a alma e, no entanto, cheguei a acreditar que a aliviaria libertando o corpo e o espírito do encargo de cuidar do meu pai.

É evidente que esta ordem de coisas não serve ninguém; que a minha mãe não tem estrutura para um agravamento desta natureza e que eu, na verdade, não tenho saber que cumpra os requisitos que a situação exige.

Ainda assim, ainda assim dói-me a alma. E se ele ficasse por cá em vez de ir? Se se mantivesse nesta cama, comigo a levantá-lo de dois em dois dias para lhe dar banho, lavar dentes, fazer a barba…dito assim parece francamente disparatado! O mais certo seria a não recuperação e o início do fim. Seria o mais certo.

Indo para onde vai as hipóteses de recuperação aumentam. Afinal já recuperou tantas vezes! Recuperará mais uma e voltará, andando, para o pé de nós.

Dói-me a alma.

9 comentários:

barbaazul disse...

Embora doída, alma grande sff.

CF disse...

Vai ser assim, claro. A vida é feita de ciclos, como tu tão bem sabes :)

Nuno Andrade Ferreira disse...

Tens de te agarrar à convicção de que foi a melhor opção.

A institucionalização, quando feita em locais adequados, com boas condições e pessoal técnico especializado, é a melhor opção.

Não é uma desresponsabilização, mas sim um acto de amor. Porque, às vezes, amar, também é assumir que não somos capazes.


Abraço e força.

Sputnick disse...

Muito delicados esses assuntos, a dor da alma quase que se torna secundária. Força.

Jardineiro do Rei disse...

Meu Deus, Antígona...

Pelo retrato traçado pelas palavras escritas, revivi o drama imenso que foi os últimos anos de vida do meu pai... e mais tarde da minha mãe.
Nós somos filhos normais, feitos para lidar com situações normais. Não sabemos lidar com situações extremas. E quando procuramos ajuda, estamos simplesmente a dizer que queremos ajudar a pessoa que amamos mas não somos capazes. E isto, amiga, é uma prova de amor!
(Subscrevo inteiramente o que um tal de Nuno Andrade Ferreira, diz...)

todo o carinho do mundo...

Jardineiro

Sandra disse...

Aconteceu o mesmo com os meus avós...e até hoje...não sei o que pensar...
bj

Alda Couto disse...

Obrigada a todos pelas boas palavras.
Sou uma estreante nestas andanças e sempre quis acreditar que momentos como este não chegariam. Infelizmente chegam, na maior parte das vezes. Ainda assim pode ser que este seja temporário. Vamos acreditar que sim e tentar tirar o máximo proveito dele.

Jardineiro, gostei dessa expressão "um tal de Nuno...", sabe a pai babado :):):). Aliás, legitimamente babado :)Já agora parabéns por esse filho tão especial.

Inês disse...

Que a identidade se mantenha, mesmo que desmascarada... que o teatro desta vida se perpetue... apesar da dor...

Será possivel?

<<<<<<<<<<<<<<<<<<<um beijinho grande!

Jardineiro do Rei disse...

E é Antígona... Um filho muito especial!
Caramba... alguma coisa bem feita eu havia de fazer na vida!

Jardineiro