Dói-me a alma e, no entanto, cheguei a acreditar que a aliviaria libertando o corpo e o espírito do encargo de cuidar do meu pai.
É evidente que esta ordem de coisas não serve ninguém; que a minha mãe não tem estrutura para um agravamento desta natureza e que eu, na verdade, não tenho saber que cumpra os requisitos que a situação exige.
Ainda assim, ainda assim dói-me a alma. E se ele ficasse por cá em vez de ir? Se se mantivesse nesta cama, comigo a levantá-lo de dois em dois dias para lhe dar banho, lavar dentes, fazer a barba…dito assim parece francamente disparatado! O mais certo seria a não recuperação e o início do fim. Seria o mais certo.
Indo para onde vai as hipóteses de recuperação aumentam. Afinal já recuperou tantas vezes! Recuperará mais uma e voltará, andando, para o pé de nós.
Dói-me a alma.
9 comentários:
Embora doída, alma grande sff.
Vai ser assim, claro. A vida é feita de ciclos, como tu tão bem sabes :)
Tens de te agarrar à convicção de que foi a melhor opção.
A institucionalização, quando feita em locais adequados, com boas condições e pessoal técnico especializado, é a melhor opção.
Não é uma desresponsabilização, mas sim um acto de amor. Porque, às vezes, amar, também é assumir que não somos capazes.
Abraço e força.
Muito delicados esses assuntos, a dor da alma quase que se torna secundária. Força.
Meu Deus, Antígona...
Pelo retrato traçado pelas palavras escritas, revivi o drama imenso que foi os últimos anos de vida do meu pai... e mais tarde da minha mãe.
Nós somos filhos normais, feitos para lidar com situações normais. Não sabemos lidar com situações extremas. E quando procuramos ajuda, estamos simplesmente a dizer que queremos ajudar a pessoa que amamos mas não somos capazes. E isto, amiga, é uma prova de amor!
(Subscrevo inteiramente o que um tal de Nuno Andrade Ferreira, diz...)
todo o carinho do mundo...
Jardineiro
Aconteceu o mesmo com os meus avós...e até hoje...não sei o que pensar...
bj
Obrigada a todos pelas boas palavras.
Sou uma estreante nestas andanças e sempre quis acreditar que momentos como este não chegariam. Infelizmente chegam, na maior parte das vezes. Ainda assim pode ser que este seja temporário. Vamos acreditar que sim e tentar tirar o máximo proveito dele.
Jardineiro, gostei dessa expressão "um tal de Nuno...", sabe a pai babado :):):). Aliás, legitimamente babado :)Já agora parabéns por esse filho tão especial.
Que a identidade se mantenha, mesmo que desmascarada... que o teatro desta vida se perpetue... apesar da dor...
Será possivel?
<<<<<<<<<<<<<<<<<<<um beijinho grande!
E é Antígona... Um filho muito especial!
Caramba... alguma coisa bem feita eu havia de fazer na vida!
Jardineiro
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