sábado, 25 de junho de 2011

Intimidades

Percebe-se que são várias habitações pelas minúsculas portas que, de duas em duas janelas, exibem o seu azul nas paredes que já foram mais brancas. Parecem ter sido construídas para anões. Tudo é pequeno, do chão ao tecto. Tudo é plano, nada sobressai do muro esbranquiçado. Entre esse muro e a estrada por onde circulam dezenas de automóveis a uma velocidade superior à permitida “dentro da localidade” não distam mais de trinta centímetros. Há mesmo lugares em que o alcatrão se estende até à soleira da porta ameaçando entrar pela casa adentro. Alguém que se aventure a assolar à janela de uma dessas minúsculas habitações, arrisca-se a levar um tabefe de uma mão que goste de agarrar o vento.

No entanto tudo isto esquece quem lá habita e é comum vê-las, às mulheres, do lado de fora da casa, limpando os estores e caiando as paredes. Não é caso raro ter o carro de parar por falta de espaço para “contornar o obstáculo”. Não tenho conhecimento de acidentes ou mortes! 

Em certos lugares, ainda existem coisas extraordinárias.