Sujeitamo-nos, evidentemente, sempre que delegamos nos outros a responsabilidade das nossas escolhas.
O que, de resto, é uma atitude bastante cómoda porque não só nos esquivamos ao trabalhão que dá ter de decidir seja o que for, como nos dá a maravilhosa oportunidade de nos podermos chorar para o resto da vida à pala da nossa triste “sorte” porque podíamos ter sido tudo e mais alguma coisa, podíamos ter tido este mundo e o outro, mas não nos deixaram.
Se não foi o pai, foi a mãe, ou os dois em conjunto numa clara conspiração contra as nossas pessoas. Pode ter sido também o padrasto ou a madrasta, que eram do pior que já se viu, ou o vizinho do lado que nos levou para maus caminhos; a professora que nos cortou a criatividade, pela raiz!...; o patrão que nunca nos deu a oportunidade que merecíamos ou, em desespero de causa, o próprio país.
Note-se que não estou a afirmar que nada disto existe ou que estas coisas, quando existem, não pesam. Pesam sempre, e muito. A questão é que todos, quer queiramos quer não, acabamos por crescer e por ter de assumir, mais cedo ou mais tarde, os cursos das nossas vidas com o material que toda esta gente e circunstâncias nos foram depositando cá dentro ao longo do tempo que levámos para crescer, que é como quem diz, ao longo do tempo que nós consentirmos, porque cabe-nos a nós gritar – Parou! Agora quem manda sou eu!
Se eu tivesse dado ouvidos às pessoas e às circunstâncias da minha vida, àquelas que mais me pesaram principalmente, tenho por certo que o meu destino teria sido outro bem diferente e muito; muito; mais negro. Mas mais cómodo…lá isso…tinha-me deixado ir, a vida teria passado amorfa, sem feitos ou responsabilidades; outros teriam tratado de mim e mesmo que andasse por aí pelas ruas alguém me daria uma sopa – há sempre alguém que dá. Se me tivesse tornado numa toxicodependente, provavelmente já não existia para vos chatear e os meus filhos não teriam nascido, mas alguém teria feito alguma coisa para me “tentar salvar” e, com certeza, alguém me teria feito o funeral e tudo se teria arranjado como sempre se arranja, nós é que gostamos de pensar que não e borramo-nos de medo sempre que a coisa vacila…
Portanto, o importante mesmo – o gozo de tudo isto – é sermos nós. Nós os decisores. Nós os determinantes. Nós os condutores, de nós. Nós os executores. Nós os juízes. Nós os responsáveis…
Até porque, no fim, isso e só isso contará…para nós. E, o que tem mais graça, é que somos sempre tudo isto, quer queiramos quer não. Seja o que for que sejamos ou venhamos a ser; seja qual for o caminho que escolhamos, a escolha é sempre nossa e é por isso mesmo que eu não tenho pachorra para ouvir lamentos, queixas e vitimizações de gente que andou toda a vida encostada às decisões alheias e nem sequer sabe reconhecer, não apenas que a escolha foi sua mas a sorte que teve por ter encontrado quem escolhe tratar de outros que, como ela, preferem fingir que não escolhem e levam a vida a olhar para o lado.
Mas enfim…quer queiramos quer não, teremos sempre de levar com as escolhas dos outros…
1 comentário:
Costumo dizer em graça que o mundo tem duas gentes. As que caminham por si, e as que se deixam guiar. Um dia, se cá voltar, e se me for dado a escolher, talvez experimente o ser guiada. Deve ser tão mais fácil.
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