Em tempos de crise aumentam os crentes e quanto mais a crise se estende mais se estende, também, o número dos ditos.
É um fenómeno recorrente que eu só compreendo à luz do medo e da busca, por vezes desesperada, de uma tábua de salvação, porque a não ser que se seja alvo de um qualquer milagre – o que acontece quando somos abençoados por aquilo que é bom e não por crises que põem em causa a nossa subsistência – não me parece lógico que se passe a acreditar naquilo em que não se acreditava antes. Aliás, parece-me até que o lógico seria o contrário – afinal Deus não existe, nem coisa nenhuma que olhe por nós, já que tudo está cada vez pior…
Então porque é que aumentam as crendices e os améns? porque é que cada vez, mais gente reza? pede? implora? É tudo uma questão de marketing. Nichos de oportunidade, como dizem os empresários. Em tempo de seca vende-se mais água, evidentemente. Mas todos sabemos que a água mata realmente a sede.
Ora o ser-se crente, principalmente crente de última hora, não implica, necessariamente, a salvação seja lá do que for. Volto por isso à questão inicial – porque é que aumenta o número de crentes? porque se enchem as igrejas? porque se entope o correio com mensagens religiosas?
Creio bem que isso acontece por perda de vergonha. Talvez que no fundo – mais fundo nuns do que noutros – todos sejamos crentes ou, pelo menos, todos saibamos “de fonte segura” da existência de algo que transcende esta vidinha que por cá levamos. Algo que transcende o tempo e o espaço da mesquinhez do dia-a-dia. Algo do qual todos nós fazemos parte.
Tenho por mim que todos sabemos isso e que, nestas alturas, vamos, devagarinho, perdendo a vergonha…
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