Não sei, ainda, o que é envelhecer bem. Sei que é importante, mas não sei o que é.
Nesta altura do campeonato já começo a ter momentos em que me é difícil identificar-me. Olho-me ao espelho e tento encaixar a imagem que vejo com o nome que sempre tive. Tenho até um espelho especial, nem grande nem pequeno, que me permite olhar-me de perfil, de viés, de costas…enfim de todos os ângulos e, em cada um deles, nomeio a imagem que me aparece reflectida no dito para que o nome não deixe de encaixar nela; para que me não esqueça de quem sou; para que me agrade aquela que tento que exista com o nome que me habituei a aceitar como sendo, também, meu.
Creio até que esta situação não será completamente nova já que me recordo vagamente desta indecisão, ou melhor, de um desconhecimento de mim, quando era miúda. Nessa época a vida corria com uma leveza absolutamente invejável e eu limitava-me a ser e a estar sem querer saber comos, porquês ou ses, sem pensar sequer nisso, sendo apenas, plenamente. E se de vez em quando me perdia, logo me encontrava na água do mar, na areia ou nas ervas onde me deitava; na bicicleta que pedalava; nos rostos e modos dos meus companheiros de aventuras.
E de tal maneira era eu, que não me via outra. E assim me convenci que outra não seria – não viveria até lá. Em segredo tentei várias vezes imaginar-me com vinte anos! Impossível! Nunca chegaria a tê-los! Nunca! O meu perfil não se adequava. Teria nascido para ser sempre criança. Não me recordo de ter pressa de crescer. Não me recordo de querer ser mais velha. Só depois de o ser comecei a sentir orgulho nisso, talvez porque a idade existia apenas na distância entre o ano em que nasci e o agora…talvez porque, em segredo, sempre acreditei que não chegaria, que morreria antes.
Não morri. E já ultrapassei a barreira onde duvidei chegar! Olho à minha volta e sinto que a maior lacuna dos velhos é a incapacidade de envelhecerem bem. De estarem bem consigo. De serem felizes por andarem por cá. E dou comigo a pensar se é assim tão importante andar por cá tanto tempo! Olho alguns que nem sabem onde estão! O que fazem!...E sei, tal como desconfiava quando era garota, que não faço questão de andar por aí senão enquanto isso der jeito seja a quem for, que é como quem diz, enquanto for útil. Andar por andar, não obrigada. Não seguir em frente, não obrigada.
Andarão eles a lutar ainda? A tentar resolver o irresolúvel? A aceitar o inaceitável?
Talvez, quem sabe, envelhecer bem seja isso mesmo – deixar de lutar, aceitar o inaceitável com o coração a sorrir, sem queixas, sem lamúrias. Gratos pela experiência. Sem arrependimentos.
No regrets são as palavras de ordem. No regrets.
1 comentário:
"Ultrapassado o espaço, tudo o que nos resta é aqui. Ultrapassado o tempo, tudo o que nos resta é agora. Entre o aqui e o agora, não crês que podemos ser felizes uma ou duas vezes?"
Aquilo não fui eu que disse, vá, alterei umas palavritas...
Eu tenho um medo doentio de morrer! De envelhecer, de perceber que já não sou a criança que sinto cá dentro!
Não vinha cá há uns tempos... mas cá estou. O teu espacinho eu sei de cor, os outros puff! Diz que não estou a seguir nenhum blogue... A verdade é que não o estava já há umas semanas... será castigo? Bejico !
Enviar um comentário