sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Memórias

Quando eu era miúda havia muitas histórias, passadas na velha Inglaterra, em que as crianças eram exploradas e mal tratadas em colégios internos. Lembro-me do David Copperfield e da Princesinha, que fazia parte da Colecção Azul duma editora que não sei o nome. Lembro-me bem das capas desses livros, lembro-me d' O Jardim Encantado... Posso não me lembrar de todos os títulos, mas lembro-me das histórias, li-as todas. Acabavam todas bem. Os maus eram castigados e as crianças compensadas pelos maus momentos por que tinham passado. Eram histórias de príncipes e de princesas que nasciam em berços de ouro mas que perdiam tudo, ou porque ficavam órfãs ou porque eram abandonadas. Sem dinheiro ou quem pagasse a sua educação, eram postas a trabalhar como adultos, andavam ao frio e ao vento, passavam fome e sofriam castigos mas, apesar dos maus tratos, nunca perdiam a capacidade de sonhar nem a bondade da alma e por isso eram recompensadas no fim, tal como eram castigados aqueles que delas tinham abusado.
Hoje, por mero acaso, parei no Hollywood e A Princesinha estava em cena. Nem sabia que tinham feito um filme! Dei por mim a antecipar, passados todos estes anos, o nome das crianças e a entusiasmar-me com o castigo daquela velha bruxa que acabou a limpar chaminés tal como merecia. A Sara, a Emengarda e a Bechy ficaram gravadas na minha memória.
Não sei até que ponto terei sido influenciada por elas, mas sei que nunca perdi a minha capacidade de sonhar tal como nunca deixei de acreditar que os maus hão-de ser castigados e os bons recompensados. No fundo, cá muito no fundo e apesar de muitas vezes duvidar dessa verdade, não sou capaz de deixar de sentir que quem é mau pagará por isso e o seu fim será doloroso, solitário e muito muito triste.

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