Todos nós somos antagónicos. Todos procuramos, incessantemente, dentro e fora de nós. Todos somos múltiplos. Neste espaço, é a minha multiplicidade que se manifesta.
terça-feira, 30 de junho de 2009
Pareço um robot
It's all about power
Poder para pôr e dispor. Poder para governar. Poder para dominar e, sobretudo, poder para controlar.
Se se pedir a um homem que escolha entre o amor e o poder, ele escolherá, quase invariavelmente, o segundo. Se lhe calhar em sorte o primeiro, tentará exercê-lo aí, seja de que forma for.
O dinheiro começa por ser querido como forma de sustento, depois de qualidade de vida e, podendo já se vê, saltará para um meio para atingir o fim – o poder.
O poder é a maior ilusão do Homem já que não só não serve para nada como, na verdade, não existe. Vai existindo.
Uma vida dedicada ao amor, à compreensão, ao acompanhamento ou à ajuda, marca. Aquela dedicada ao poder esvai-se na hora em que ele se perde e ele pode perder-se em qualquer instante, basta que os submissos acordem e percebam que a força existe dentro de cada um de nós e que cada um de nós é livre de escolher o seu caminho.
O poder só é exercido sobre quem o consente, quem pensa que está dependente, quem tem medo. Vai-se o medo do submetido e vai-se o poder de quem submete. No fim não fica nada a não ser rancor. Ninguém gosta daqueles que exercem ostensivamente o poder porque ninguém gosta de ser vítima de violência e o exercício do poder é sempre uma violência.
Há séculos que os homens andam atrás de uma ilusão. Talvez tenham agora, nestes tempos mais ou menos conturbados, a oportunidade de acordar.
segunda-feira, 29 de junho de 2009
De vez em quando
Manifesta-se comummente por uma sensação de perigo eminente à qual se segue um ligeiro desapontamento que culmina na frustração. São ataques que surgem quase sempre na sequência de expectativas logradas e que aliviam quando escrevo.
Parece uma doença mas não é. É apenas uma insegurança, uma incerteza, uma solidão.
domingo, 28 de junho de 2009
A guerrinha dos sexos
Eu não sou a pessoa indicada para conselhos matrimoniais. Estou sozinha há muito tempo e pelo que vejo, e pelo que vivo, assim ficarei porque entendo que uma alteração dessas tem de ser, necessariamente para colorir a vida e não para a transformar num pequeno inferno. Mas custa-me ver duas pessoas que se amam a zangarem-se por pormenores que não têm importância nenhuma.
O que é que interessa a forma como as coisas se dispõem numa casa? O que é que interessa se este ou aquele objecto está mais ou menos limpo? O que é que interessa se de vez em quando uma peça se parte? Que importância têm as coisas ao lado do amor e do carinho que se tem por quem está connosco? Porque é que insistimos para que o outro seja aquilo que nós achamos que ele deve ser? O que nos leva a exigir algo perto da perfeição? Ou será que aquilo que realmente se exige é que o outro seja um espelho nosso? Que se torne transparente para que não tenhamos de lidar com alguém que vive vê e sente a vida de uma forma diferente da nossa?
No início de uma relação estas questões são de somenos importância. Eles vão aceitando as directivas e elas vão fechando os olhos às tampas das sanitas que ficam abertas. Mas à medida que os anos passam e que o quotidiano passa a ser cada vez mais preenchido com questões desta natureza, a coisa acaba por cansar e azedar.
Porque é que a nossa tolerância diminui exactamente quando era suposto aumentar? Porque ficamos mais velhos? Porque a paciência tem limites?
Mulheres, os homens não querem saber dessas coisas para nada. Não é por mal que não fecham as tampas, que põem as mesas ao contrário, que largam o jornal em qualquer lado. É tão só porque essas coisas para eles não contam, têm outros interesses.
Homens, para as mulheres a ordem das coisas é importante. São elas que cuidam, que limpam, que preservam. As mulheres vivem melhor, são mais felizes, em lugares harmoniosos. Pelo menos a maior parte delas.
Custa alguma coisa ter isso em consideração? Custa alguma coisa fechar os olhos à mesa mal posta? Custa alguma coisa fechar a tampa da sanita?
Se um casal quer ser casal até ao fim tem de aprender a ser tolerante e condescendente. Não há mal nenhum nem na tolerância nem na condescendência, são capacidades que vão muito bem com o amor.
sábado, 27 de junho de 2009
Sábados...


Sentei-me ao computador à procura de outras casas; sentei-me no maple à procura de outros filmes.
O tempo foi passando. Mandei vir uma pizza, uns profiteroles e uns pãezinhos d’alho.
Vou às compras amanhã. Ao cinema também hei-de ir. Provavelmente amanhã...
A andar, mas devagar...
Só para terem uma ideia, se eu for à varanda não oiço a minha mas oiço a dela, a duas varandas de distância. Não é extraordinário?!
sexta-feira, 26 de junho de 2009
Dos que nascem e dos que morrem
Foi um dia agitado o dia de ontem. Recheado de acontecimentos antagónicos. Cheguei ao fim do dia, que era já começo deste outro, desorientada como se fica depois de uma volta na montanha russa, sem saber se tinha a cabeça no estômago, o estômago nas costas ou a garganta na barriga.
Felizmente que acabou tudo em bem se não considerarmos, evidentemente, a morte do Rei da Pop. Afinal somos todos humanos, todos nascemos e todos morremos, mesmo que de repente, mesmo que sem avisar, mesmo que sem esperar e isso é o que mais custa.
A notícia apanhou-me, como tudo no dia de ontem, no momento em que me regozijava pelo facto da minha mãe, com quem passei dois pares de horas no hospital, não ter nada de cuidado.
Tal como eu disse – uma montanha russa…
Hoje, quando abri os olhos, a primeira imagem que me veio à cabeça foi a dos dois bebés que nasceram ontem no hospital onde aguardei, ansiosamente, o veredicto sobre o estado de saúde da minha mãe. Passaram por nós, acabadinhos de nascer, enrolados nas suas mantinhas e encostados às mães cansadas.
Todos os dias morrem estranhos, mais-ou-menos-estranhos, absolutamente-nada-estranhos, conhecidos, super-conhecidos e às vezes lá morre um daqueles que todos-sabem-muito-bem-quem-é (foi).
Todos os dias nascem milhares de seres que ninguém conhece, ainda.
Quem sabe se algum deles não virá a ser um Rei de Qualquer Coisa…Quem sabe se ontem, no meio da angústia que a espera traz, não se cruzou comigo um futuro Rei?
quinta-feira, 25 de junho de 2009
À laia de esclarecimento
Esse tipo de amor, que é universal, é um amor que não possui, antes liberta; que não pede, antes dá; que não necessita, porque se basta a si próprio. É um amor que se auto-alimenta e para o qual basta a felicidade de quem se ama, perto ou longe, connosco ou com outrem.
Esse é o tipo de amor que deseja sim, mas deseja o bem alheio, a felicidade alheia, a realização alheia. Esse é o amor que sentimos por aqueles que realmente amamos, como por exemplo, os nossos filhos.
É esse amor maior que eu contraponho àquele outro que dizemos sentir cada vez que nos apaixonamos. Porque, de facto, os estados de paixão nos arrastam muitas vezes para atitudes que pouco ou nada têm a ver com o amor. Que raio de amor é esse que desfaz uma família?! E aquele que persegue o ente que diz amar?! Que raio de amor é esse que nos leva tantas vezes à violência?! Que raio de amor é esse que nos mói de ciúmes por todos e por ninguém?! Que amor é esse que nos impulsiona a prender com braços de polvo aqueles que dizemos amar?!
O “fogo que arde sem se ver” de que fala Camões, não é amor, é paixão. Só a paixão arde assim. Só o desejo extremo aguça a necessidade extrema. Eu já amei assim e sei o quanto dói. Também já descobri o outro, aquele de que falo, e sei o quanto liberta.
Passei a manhã aqui
Do Amor
Os Franceses usam-na para tudo. Amam os companheiros e companheiras como amam os pasteis de nata e as bolas de Berlim.
Nós somos um pouco mais comedidos. Adoramos pasteis de nata e gostamos muito dos nossos companheiros e companheiras. Gosto muito de ti, é frase recorrente entre namorados, amantes, maridos ou mulheres. Alguns há que afirmam mesmo, com um ar surpreendido – Eu Gosto Mesmo Muito de Ti! Como se algo de extraordinário estivesse a acontecer. Amo-te já é mais difícil de sair. A não ser que seja em relação a algum filme ou livro que tenham visto – Amei!
Amar, seja quem for ou que for, é um estado de espírito. Quem o encontra e o guarda, sente-o em relação a quase tudo. É um estado de espírito que tem sido, ao longo dos tempos, confundido com paixão, com dependência, com necessidade, com poder, com submissão, com teimosia, com atracção sexual, com disputa, com desafio, com conquista e até com carinho, com amizade, com camaradagem e bom entendimento. Tem sido confundido e continuará a sê-lo quando, na verdade, pouco ou nada tem a ver com tudo isto.
Poucos de nós chegam a perceber, a sentir ou a viver, exactamente, o amor. Madre Teresa de Calcutá, Jesus Cristo, Buda, Santo António, São Francisco e mais uns quantos cujo nome não me vem agora à ideia, souberam exactamente o que é o amor. Os outros não. Nem mesmo Camões que passou a vida a chorar pelas esquinas à pala de paixões inalcançáveis e que por serem isso mesmo, inalcançáveis, o faziam tremer. Assim somos nós. Queremos até termos, depois…nem tanto.
Não significa isto que não tenhamos necessidade de amar e ser amados. Muito pelo contrário, temo-la e de que maneira. Temo-la como quem tem sede no deserto. E como quem tem sede no deserto nos vamos contentando, ou não, com as miragens que ele nos dá.
quarta-feira, 24 de junho de 2009
Irracionalidades
E se cuidassem de vossa vidinha, hem?!
Não interessa ser-se honesto, trabalhador, leal, esforçado, determinado, persistente; não interessa ter-se bom coração, ser-se altruísta, vanguardista, elitista ou analista. O que interessa é se se fuma, ou não. Ou não. Principalmente e fundamentalmente – ou não.
Quem fuma é olhado de lado, criticado, excomungado, erradicado e, se possível, expatriado.
Tempos houve em que fumar era chique, dava estilo. Se fosse de cigarrilha então…!
Não estou aqui a defender o uso do tabaco. Tenho perfeita consciência dos seus malefícios. Já deixei de fumar cinco ou seis vezes e já voltei a fumar outras tantas. Não sou uma fumadora inveterada e estou longe de ser profissional. Alterno os meus períodos de fumadora com longos períodos de não fumadora, mas uma coisa é certa, o problema é meu e por muito que certos amigos gostem de mim e me queiram bem, olharem-me com ar de crítica e virem-me com lições de moral…não tenho pachorra. Para já não falar na contraposição desse tipo de atitudes. É que só me dá vontade de, na frente deles, acender mais um…
Da Honra
Já não se ensina e não se pratica. Deixou de ter importância. Longe vão os tempos em que um Homem se distinguia pela sua honra; em que lutava para a salvar; em que perdê-la era a vergonha máxima. Em certas culturas orientais a honra, uma vez perdida, só era recuperável com a morte.
Reflectindo honestidade, respeito, integridade e justiça o conceito de honra urge ser recuperado. É claro que não ao nível das antigas culturas. É claro que não fará sentido alguém ir ao encontro da morte para salvar a honra. Mas faz todo o sentido que a sua importância seja restabelecida.
Samuel Johnson, no seu Dictionary of The English Language (1755), define-a como “nobreza de alma, magnanimidade ou desprezo à maldade”.
A honra é o sentimento que sobrepõe aos interesses particulares, os colectivos. É o sentimento que nos inspira o olhar para o bem comum, mais do que para o nosso imediato bem.
Mas é sobretudo a prática deste sentido, o da Honra, que nos traz a médio prazo o bem-estar que procuramos.
Bem sei que há muita gente que dorme bem apesar de não a ter. Mas acredito que mais cedo ou mais tarde essa capacidade os abandonará, porque é sempre mais grato fazer o que Deve Ser Feito do que fechar os olhos para satisfazer prazeres mesquinhos e imediatos que de efémeros desvanecer-se-ão.
Existe prazer na abdicação e na dádiva. Até porque é sempre um desafio, e os desafios depois de ganhos são motivo de orgulho.
terça-feira, 23 de junho de 2009
Das voltas que a vida dá
São situações em que o tempo nem sempre se mede pelo tempo.
Há mais de quarenta anos conheci uma menina. Andámos juntas no 5º ano. Tínhamos, então, dez anos. Gostámos uma da outra. Éramos amigas do peito. Identificávamo-nos. Procuravámo-nos porque nos sentíamos bem uma ao pé da outra.
No final desse ano os pais dela mudaram-se para uma cidade relativamente longe da minha. Ficámos tristes e passámos a escrevermo-nos. Trocámos fotografias e fomo-nos afastando. Quase sem darmos por isso perdemo-nos de vista.
Eu tenho por hábito, sempre que mudo de casa, fazer limpeza à tralha que gosto de acumular ao longo dos anos. Deito sempre muita coisa fora, coisas que, pelo menos naquele momento, me parecem supérfluas e de somenos importância. Duas pequenas caixas ficam sempre. São caixas que me têm acompanhado, que viajam comigo desde que saí de casa dos meus pais. Numa dessas caixas estão as cartas da C.
Não há muito tempo estive de volta delas a pensar no que seria feito dessa minha pequena amiga. Pensei que provavelmente não nos voltaríamos a ver, ou caso nos encontrássemos nos encontraríamos estranhas.
Há coisa de um mês, talvez nem tanto, na sequência de um contacto profissional, recebi um telefonema resposta e…lá estava ela, do outro lado da linha, reconhecendo-me. Tenho muitas saudades tuas, não te vejo há uns dias, brincou.
Hoje finalmente encontrámo-nos. Almoçámos juntas e pusemos a escrita em dia.
Não nos estranhámos. Estamos na mesma, eu e ela. Tal e qual como quando tínhamos dez anos. O tempo não passou por nós!
E eu hoje sinto-me mais rica.
segunda-feira, 22 de junho de 2009
Deixem os putos em paz!
Isto não é novo. Já no tempo dos meus filhos as professoras primárias se despediam deles com um batalhão de coisas para fazerem durante as férias. Os meus nunca as fizeram. Eu não deixei. Mais, disse-o claramente às respectivas professoras – os meus filhos estão de férias, escusa de lhes mandar trabalhos para casa porque eles não os vão fazer.
Nunca chumbaram.
Às vezes tenho a sensação que a angústia de ser adulto é tão grande que secretamente invejamos a liberdade infantil e em prol disso não suportamos que sejam crianças, livres e despreocupadas como devem ser as crianças.
Ou será que há certos professores que querem aproveitar o tempo que não é deles para recuperarem algum tempo perdido durante o ano lectivo?! Não há dias suficientes, horas suficientes, para ensinar o que é preciso?! Ou não saberão eles que quando as coisas ficam bem ensinadas não se esquecem ou facilmente se recordam sem ser necessário castigar quem não merece?! Sim, porque sabe a castigo terminar um ano em que se trabalhou e não ter direito a não pensar!
Das intenções
É certo que o resultado é mais forte, pesa mais, do que a intenção. Pelo menos no imediato. Mas de que me vale a mim que um gajo me proporcione uma noite, digamos que muito simpática, que me leve a jantar a um lugar fenomenal, que me mostre coisas que eu nunca vi se, na verdade, a intenção dele é só uma e eu, por muito que ele disfarce, a sinto?!
De que me vale que alguém me trate nas palmas das mãos, que me olhe nos olhos e me diga que me adora se, na verdade, o que lhe interessa mesmo é o recheio da minha carteira e eu até sei disso?!
O que é que me interessa que alguém me chame amiga a toda a hora, que me fale com respeito, que me abrace e confie se, na verdade, isso acaba no momento em que consegue o que quer e eu até pressenti que seria assim?!
O que é que me interessa que alguém me salve a vida quando, na verdade, a sua intenção era matar-me?!
Pois eu digo-vos que não me interessa nada. Não me vale de nada. Mesmo.
Eu sinto e pressinto as intenções que subjazem nos actos. Ou porque já conheci muita gente, ou porque já cá ando há tempo suficiente, ou porque, na verdade, e é nisto que acredito, todos nós sentimos e pressentimos. Só fingimos que não. Viramos a cara. Porque o resultado, o tal que é imediato, até nem é mau de todo.
E assim vamos adiando a nossa vida, porque, cada vez que deixamos que as intenções se escondam atrás de actos que não as corroboram, estamos a adiar a vida. A nossa e a dos mal-intencionados.
domingo, 21 de junho de 2009
Equilíbrio, precisa-se
Uma outra coisa, não menos importante, é a possibilidade de nos conhecermos através dele.
E, a não ser que a nossa auto-estima ande de rastos, só é possível reconhecermo-nos através de alguém que respeitemos.
Assim, o encantamento está, irremediavelmente, ligado à admiração.
A dificuldade reside precisamente aí. Na incapacidade de admirar o outro. Gostava de poder dizer que essa incapacidade pode estar aliada à incapacidade de nos admirarmos a nós mesmos, mas não acredito muito nisso. Antes pelo contrário, quando não nos valorizamos tendemos a sobrevalorizar o outro. Assim, essa incapacidade deverá estar numa sobrevalorização de nós mesmos que nos leva a sentir que ninguém nos chega aos calcanhares.
A minha vida tem alternado entre uma coisa e outra com alguns, raros, momentos de equilíbrio. Durante uma quantidade de anos, sem saber muito bem se valia alguma coisa, achava sempre que quem estava comigo sabia mais, era mais inteligente, mais esperto, mais capaz. Achava sempre que não tinha nada para ensinar e tudo para aprender.
Depois, à medida que me fui conhecendo melhor, a mim e aos outros, compreendi o erro em que tinha caído e passei a achar que, afinal, em muitos aspectos, eu tinha mais para ensinar ao outro do que para aprender dele. Assim fui andando, de desilusão em desilusão, até que cheguei ao ponto de acreditar que a maior parte dos candidatos sabe muito pouco da vida, o que me chateia já que cada vez é mais difícil encontrar alguém que tenha alguma coisa para me ensinar.
O que equivale a dizer que cada vez é mais difícil encontrar alguém que me surpreenda. O que equivale a dizer que as hipóteses de me apaixonar são cada vez mais reduzidas.
O que, se calhar, equivale a dizer que tenho a mania que sou boa!
Portanto passei, quase directamente, de insecto para super-homem!
Está na altura de voltar a encontrar um desses raros momentos de equilíbrio e aprender a ficar por lá.
sábado, 20 de junho de 2009
Amores incondicionais
Seja a outro ser humano, seja a um animal ou, até, a uma planta. A relação que estabelecemos com aquele ser particular marca-nos para sempre.
Um membro chegado da nossa família não serve. Tem de ser alguém de fora, um estranho, uma visita, alguém que gentilmente acolhemos, que não faz parte do círculo familiar mas que passa a fazer, como um cão.
Eu tive vários. Quando o primeiro entrou pela porta dos meus pais eu já não era criança, o meu irmão sim. Talvez por isso, ou pelo amor que ele sempre nutriu pelos bichos, apegou-se mais a ele do que eu. Depois veio outro, e outro. Chegaram a coabitar três e mais um gato e pássaros, e ratos da índia e sei lá que mais. Houve uma altura em que a casa parecia um jardim zoológico.
Talvez por isso, pela abundância, eu nunca tenha estabelecido, com nenhum deles, uma verdadeira relação de amizade. Por isso, ou pela consciência de que eu ficaria por cá muito depois deles.
Há duas coisas que nos inibem a dádiva e a dedicação – a abundância de objectos e o medo de os perder.
Hoje, quando vejo certos filmes ou leio certos livros, tenho pena que tenha sido assim. Sinto a falta do amigo que não cheguei a ter por não ter sido.
Há coisas que são, de certa forma, irrecuperáveis no tempo. Ainda que em qualquer altura possamos fazer qualquer coisa, é inegável que há idades mais certas do que outras, mais próprias para receber determinadas vivências.
Quando penso nos meus cães e nos momentos que passei com eles lamento não lhes ter sido mais próxima.
O último que fez parte da minha família partiu não há muito tempo. Foi a paixão da minha filha e compreendo-a hoje mais do que nunca. Hoje…um pouco tarde de mais. Ele foi um amigo dedicado. Ele foi o amigo dedicado. Que me fez companhia em muitas horas de tristeza e de solidão. Costumava apoiar o focinho na minha perna e olhar-me com uns olhos ternos ternos, sem pedir nada, sem esperar nada.
Tenho saudades dele e lembro-o mais do que pensei lembrar. Foi um bom cão. Eu fui uma dona sofrível. Valeu-lhe a minha filha que o amou incondicionalmente, como um bom cão merece ser amado.
sexta-feira, 19 de junho de 2009
Momentos
Ficamos ali; trocamos meia dúzia de palavras, às vezes mais, mas acabamos sempre por ficar ali, os três , a olhar o écran da televisão que está, a esta hora, invariavelmente acesa.
Às vezes comentamos esta ou aquela cena, desta ou daquela novela. O meu pai não dispensa as novelas. Vive-as alegremente; ri-se delas; distrai-se da vida.
Por vezes acontece não falarmos durante uns minutos. E é nesse silêncio que a paz mais se instala. É um aconchego, uma proteção, um abandono tal que os meus olhos ameaçam fechar, o meu corpo tende ao abandono e toda eu sossego na certeza de que nada, mas mesmo nada, me pode atingir enquanto os tiver, assim, a zelar por mim.
Ups...
É hoje!
Rezem por mim que eu já me vejo lá a morar.
Pois que é o Peter Gabriel, sim senhores. Os Génesis, no concerto da minha vida - The Lamb Lies Down On Broadway.
Enjoy it.
A importância das actualizações
Com esta vontade a querer sair e o meu filho a dizer – gabo-te a paciência, atirei-me ao computador em busca de algo que me dissesse alguma coisa. Encontrei uma licenciatura em Ciências da Educação na Universidade de Lisboa, a clássica. Vai de ligar para lá – ah e tal, já passaram muitos anos…tem de passar por um processo de selecção. E lá fui eu para o processo de selecção. Um exame de três horas para responder a três questões, uma entrevista posterior para o caso de passar no dito.
Fiz o exame. Eu e mais cinquenta mil… enfim, éramos muitos. Uns para o curso que eu quero, outros para Psicologia. A maioria para Psicologia.
Hoje (que é já ontem), estava eu descansada à espera que o mecânico me substituísse mais uma peça no meu pobre carro quando tocou o telefone. Então não vem?, perguntava o senhor do outro lado. Mas não vou onde?! Tinha uma entrevista marcada para as 9.30 h, não viu o site? Eu não! Estava convencida que me avisavam e que os resultados só sairiam no final deste mês.
Olhe que não costumamos fazer isto. Não telefonamos para ninguém, mas teve uma boa nota, não quer vir já?
Pois que fui. Não tive nada uma boa nota! Tive um cocó de uma nota! Os outros é que tiveram notas de m… mas para quem não teve tempo para grandes preparações; para quem não fazia um exame há séculos, até que não me saí nada mal. Só um terço dos candidatos é que passou à fase seguinte. Até que fiquei orgulhosa de mim. E a entrevista correu bem, pelo que estou prestes a meter-me em mais trabalhos.
O meu filho só diz – gabo-te a paciência! Mas isso é porque ainda não compreendeu a importância das actualizações…
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Do sexo
Vê-lo apenas como uma função vital capaz de nos melhorar consideravelmente a qualidade de vida, é ainda, atrevo-me a dizer, uma meta a atingir. E, quando digo – a atingir, nem sequer estou segura de que deva ser atingida já que, para tal, será necessário desligá-lo irremediavelmente do amor e sexo sem amor é algo para o qual ninguém está preparado. Nem mesmo aqueles que dizem que estão. Nem mesmo aqueles que fazem dele um hobby ou um desporto, já que quando, por qualquer distracção, o fazem por amor e com amor, dificilmente voltarão a tirar dele o mesmo partido que tiravam antes.
O sexo e a forma como cada um o vive e vê, continua a ser um enigma, um pequeno tabu, uma complicação. Principalmente para quem partilha, diariamente, a sua vida com um outro.
Primeiro porque aqueles que vivem sozinhos têm uma maior liberdade para o viver conforme lhes der na real gana. Segundo porque é muito difícil encontrarmos alguém que tenha o mesmo ritmo que nós. Não creio sequer que haja dois ritmos iguais, pelo que teremos de nos contentar com o mais aproximado que encontrarmos e ir adaptando as diferentes vontades ao longo dos anos.
O sexo é tão capaz de nos juntar como de nos separar, na hora. Assim, sem mais nem menos. E de pouco serve lutarmos contra isso porque, das duas uma, ou nos resignamos ao que temos ou mascaramos o nosso comportamento, mentindo e enganando.
Pode ser que um dia estejamos preparados para nos abrirmos verdadeiramente com quem vive connosco, mas a minha experiência diz-me que, no momento em que os actos se transformam em palavras, a coisa arrefece de tal maneira que dificilmente voltará a aquecer.
Falar abertamente sobre o sexo, o nosso sexo, o nosso comportamento e as nossas vontades sexuais, deixa-nos, às vezes a nós, muitas vezes aos outros, com um aperto no estômago e um nó na garganta.
Atrevo-me a dizer que o nosso conhecimento sobre o assunto está a léguas de ser satisfatório. Não nos conhecemos uns aos outros e, ao pormos no nosso desempenho sexual a prova do nosso amor ou do nosso interesse estamos a pressionarmo-nos e a pressionar o outro. E sexo sob pressão, não dá. É um vírus que mina a relação até a matar. Por isto anda aí muito casal que já morreu e que só existe na esperança de ressuscitar. Alguns até pode ser que consigam. A maioria vai-se arrastando à força de balões de oxigénio esperando que a idade lhes tire a vontade. Mal sabem eles que nenhuma idade, por si só, o faz.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Se fosse hoje...
É claro que ninguém pode desfazer o que está feito! Mas pode mudar, caramba! Se não gosta da casa – mude-se; se não está bem casado – descase-se; se o emprego não serve – procure-se outro. Passar a vida a chorar o que se devia ter feito e não fez, é que não! Se não fez, faça agora.
O que é que nos diz que temos, em determinada altura da nossa vida, de decidir aquilo que ela vai ser até ao fim?! Nós nem sabemos quando é que será o fim! E depois o que é que, num mundo em permanente mudança, nos leva a pensar que as decisões são imutáveis?! Não andamos nós permanentemente à procura do nosso caminho? É que se o soubéssemos de antemão isto não dava trabalho nenhum! O gozo está, precisamente, na busca, na procura constante, na mudança.
Eu sei, eu sei que já disse aqui várias vezes que as mudanças me causam stress. Se calhar causam stress a toda a gente. Mas o facto é que também são o sal da vida. Muito mais stress me causa ficar sentada no mesmo sítio quando me doem os rins p’ra caraças!
Sabem porque é que a minha vida está sempre a mudar? Porque eu adoeço. Isso mesmo, adoeço. Literalmente. Sempre que me encontro numa situação que contrarie aquilo que sou. Sempre que me encontro numa situação de “sacrifício”, adoeço. Para mim os sacrifícios têm de ter um objectivo maior. O seu resultado tem de ser muito mais importante do que aquilo por que tenho de passar. Fixada no objectivo, o caminho deixa de ser penoso e a paciência deixa de ter limites, porque é aquilo que eu quero.
Sacrificar-me em prol de algo que até não me interessa muito ou que, na verdade, não me aquece nem me arrefece, não faz sentido nenhum.
Outra coisa que as pessoas têm um bocado a mania de dizer é que se sacrificam por outros. Seja pelos filhos, seja pelos pais, seja pelos companheiros. Ora isso é uma treta desgraçada, primeiro porque, na maior parte das vezes, ninguém lhes pediu nada. E depois porque é o primeiro passo para começarem a cobrar favores a quem nada lhes pediu.
Deixem-se mas é de sacrifícios, percam o medo e andem para a frente. Ou para o lado, ou para trás. Olhem, andem para onde quiserem porque, na verdade, as possibilidades são sempre maiores do que aquilo que, muitas vezes, nos querem fazer querer. Mas andem! Não fiquem parados! Parar é morrer.
terça-feira, 16 de junho de 2009
Nunca mais é sábado!...
segunda-feira, 15 de junho de 2009
A saga da lente perdida
Gente cheia de mania...
Convidaram-me para um evento social, daqueles onde qualquer pessoa pode ir mas em que certas pessoas, neste caso os convidados, ficam, digamos assim, mais bem instalados e desfrutam de certas regalias.
Os lugares estavam assinalados com os nomes dos futuros ocupantes (já vão perceber porque é que esta informação é importante). Indicaram-me os meus e nós sentámo-nos. Pouco tempo depois chegaram os ocupantes dos lugares atrás de nós. Um grupo de cinco pessoas encabeçadas por um senhor que é dono de vinte e tal revistas que circulam pelas nossas bancas, na sua maioria do género “cor-de-rosa”.
Pois a primeira coisa que este senhor fez foi agarrar no telemóvel e, alto e bom som, dizer ao seu interlocutor – Chegámos atrasados pá! Puseram-nos aqui no galinheiro!... Pois é! Como chegámos atrasados mandaram-nos para o galinheiro! A gente já vai ter com vocês aí à tenda.
Quando, no final do evento, se levantaram, reparei que o nome do senhor figurava, em letras garrafais, em todas as cadeiras ocupadas pelo grupo.
domingo, 14 de junho de 2009
Não somos todos iguais
A questão não está nas igualdades ou nas diferenças que transportamos à nascença. A questão está nos direitos com que nascemos e, esses, deveriam ser todos iguais.
Nascemos todos debaixo do mesmo Sol, para habitar o mesmo planeta o que nos deveria dar, a todos, o direito às mesmas oportunidades. As nossas diferenças residem, basicamente, na forma como as aproveitamos e é aí, e só aí, que a selecção, se assim se lhe pode chamar, deveria ser feita.
Reconhecer o esforço de cada um é um direito que considero básico.
Dar oportunidade para que todos possam lutar pelo reconhecimento, é um direito que deveria assistir a todo e qualquer ser humano.
Há direitos que nos assistem só pelo facto de termos nascido. Os outros conquistam-se, ou não.
Quanto aos deveres, esses crescem connosco e vão-se adaptando à idade de cada um.
Tudo isto me parece básico. Se o escrevo aqui é em resposta a um comentário que me foi deixado num post recente em que “brinquei” um pouco com a distribuição da riqueza a propósito da quantia exorbitante que circulou à pala de um jogador de futebol.
Se chegámos ao ponto em que as diferenças se enraizaram, fadando assim todos os descendentes daqueles que aproveitaram menos bem as oportunidades que lhes foram dadas, não sei, mas é algo em que não acredito, porque me parece que, ao longo da nossa História, sempre houve quem gostasse de subjugar e de tirar para si um pouco mais.
Garantir a igualdade de oportunidades é o dever de toda a sociedade civilizada e é dessa forma que eu considero a igualdade.
À partida, que é como quem diz, à nascença, somos, ou deveríamos ser, todos iguais.
sexta-feira, 12 de junho de 2009
Cristiano Ronaldo
A primeira coisa que me veio à cabeça foi – O que sentirão os Espanhóis? - Não me refiro aos ferrenhos do Real Madrid. Refiro-me assim ao povo em geral. Aquele que está a passar mal, ou menos bem, nesta época que se diz de recessão! O que sentirão eles? Sentir-se-ão traídos?, enganados?, sentirão falta de solidariedade da parte de quem tem muito?
E foi neste turbilhão de emoções que me veio à ideia, a mim que pouco ou nada percebo de economia – Então e o euromilhões?! O euromilhões põe, semanalmente, na mão de uma pessoa ou, vá lá, de um grupo restrito, quantias que ultrapassam esta. Nesta ordem de ideias pensei que, então, o que fazia sentido, era que todo esse dinheiro que circula a rodos por aí, interrompesse por algum tempo o seu percurso normal e fosse desviado para colmatar as carências de todos aqueles que, sem culpa nenhuma, se têm visto privados de alguma dignidade e, já agora, distribuía-se também pelos desgraçados que passam fome todos os dias. Os ricos deixavam de ser ricos e os agora pobres deixariam de o ser. Ficávamos todos remediados...
Agora, como é que se desenvolve a economia num mundo de gente remediada? Isso eu já não sei dizer porque, como é óbvio, não é a minha área. O que sei e sempre ouvi dizer é que dinheiro puxa dinheiro e que para a economia progredir é necessário que quantias deste calibre circulem por aí. Se isto é dito para conveniência de alguns ou se é verdade…só quem lá anda é que poderá responder. Contudo, na minha pouco modesta ignorância, não posso deixar de pensar que poderia ser uma boa solução se os mais ricos estivessem dispostos a dividir a sua riqueza, que é como quem diz, a prescindir dela. Porque uma coisa é certa, se estivéssemos todos em pé de igualdade, todos teríamos condições para trabalhar e para desenvolver fosse o que fosse. Aí, recomeçaríamos até voltar a chegar ao ponto em que estamos agora, só que um bocadinho mais sábios.
O problema é que, na verdade, nós não sabemos se somos ou não todos iguais…
quinta-feira, 11 de junho de 2009
Raios os partam!
Das tradições e afins
Este ano, porém, telefonou para me dar os parabéns e dizer-me que não haveria flores porque os tempos estavam maus e por uma outra razão qualquer que não retive. Só ele saberá o que o levou a suspender uma coisa que estava prestes a entrar no campo da tradição, mas eu concordei dizendo-lhe aquilo que penso – quando os actos se transformam em hábitos perdem parte do seu significado.
O mesmo se passa com certas tradições. Hoje, por exemplo, é dia de Corpo de Deus. Eu atrevo-me a dizer que, para a maior parte das pessoas, hoje é feriado e…aleluia!
Mesmo aqueles que até sabem que é Dia de Corpo de Deus, não fazem a mínima ideia do que isso significa. Não sabem porque é que este dia existe nem para que serve. Eu não sabia.
Fica aqui registado que este dia se celebra, em Portugal, desde os finais do séc. XIII. É um feriado móvel porque está ligado à Páscoa, sendo que se celebra no 60º dia a seguir a esta e que tem de ser a uma 5ª Feira para se unir à última ceia celebrada na 5ª Feira Santa. Quem teve esta brilhante ideia foram os Belgas, em 1246.
O que se celebra é o corpo e o sangue de Cristo. Para os devotos do catolicismo é claro que este dia é especial, para os outros, nem tanto…
D. João I, no início do séc. XV, celebrava-o com uma procissão solene. Ao que parece isso também acabou.
É como eu digo – quando os actos se transformam em hábitos perdem parte do seu significado e, às vezes, até caem no esquecimento – que dia é hoje mesmo?! E o que é que isso quer dizer?!
Enfim… ficam os feriados, que só por si já são motivo de festejo…
quarta-feira, 10 de junho de 2009
Clap Clap Clap
Gosto mesmo deste homem!
É assim...o que é que se há-de fazer?
E foi nessa esperança que liguei o televisor e me pespeguei a ver o desfile militar que, este ano, foi em Santarém. E comovi-me. Pois que me comovi! O que é que posso dizer mais?! Que, apesar dos pesares, sou uma patriota inveterada. Que, apesar dos protestos, carrego, irremediavelmente, Portugal no coração e que aqueles militares todos e mais o hino, e as tropas especiais, e a marinha, e a aviação, e os miúdos dos colégios e as polícias… enfim, trouxeram-me lágrimas de uma comoção onde se esconde, tímido, um orgulho irremediável.
Pois, mesmo assim, a estúpida da lente não se manifestou e eu já estou na dúvida se anda perdida dentro do olho ou se caiu sem que desse por ela. Porque, na verdade, me custa a acreditar que tenha desaparecido cá dentro, apesar das picadas que me dizem que anda aqui um corpo estranho…
Dia de Portugal
É que se forem esses não creio que lhes deva chegar um dia de homenagem…
Por outro lado e pensando bem, se calhar também a nós, que ainda cá estamos a ver se conseguimos fazer alguma coisita por isto, não nos devia chegar…
Bem vistas as coisas o único que se deve regozijar por este dia de festa é o Camões.
Bem… e eu. Afinal de contas é feriado…
Donald Fauntleroy Duck


terça-feira, 9 de junho de 2009
Simplicidade
- Conheces a Portela? – perguntava-me ele, decidido a que eu “visse” a escola onde tinha andado.
- Sei onde é – respondi.
- Estás a ver esta casa? – continuava ele de mão em concha a bater na mesa. – Viras aqui – e a mão fazia o movimento da viragem. – Aqui há aqueles portões grandes, verdes – as duas mãos ilustraram os portões. – São da escola onde eu andava.
Não pude evitar um sorriso perante a determinação e a confiança com que me mostrava o lugar de onde tinha vindo.
- Depois vais por aqui – e as mãos lá continuavam a explanar no tampo da mesa. – Viras. E estás na minha casa.
Eu acenei e espantei-me! Ele acreditou que eu tinha ficado a saber tudo, tudinho.
É esta a delícia de se ser pequenino.
Eureka!
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Dos mono...
Ou é isso, ou cansaço…
É claro que não chega a ser tão mau como a monomania. Essa, sendo uma “mania”, já entra na secção dos delírios, ainda que parcial (o delírio, evidentemente). O que tornaria a coisa bem mais grave. Mas caminho a passos largos para a monoplastia, querendo isto dizer que corro sérios riscos de me tornar primitiva, e para a monossemia, que é a qualidade de certas palavras terem apenas um significado. Reparem que são apenas «certas» palavras, não todas. Podendo, portanto, ser postas de parte aquelas regularmente usadas pelos políticos. Esses de “mono” não percebem nada. São “pluri”. O que é claramente uma vantagem. Não fosse por isso e a maior parte deles estaria hoje bastante triste.
Eu passei o dia a vergastar-me por não ter conseguido ir votar. Mas a culpa não foi minha. Foi do cabrão do monodeísmo…
domingo, 7 de junho de 2009
sábado, 6 de junho de 2009
A lente perdida
Assim, logo de manhã, atrasada que estava para um compromisso, pespeguei-me em frente ao grande espelho, de lente orgulhosamente vibrando no dedo médio da minha mão direita. Repuxei a pálpebra inferior e, determinada a não usar os óculos, aproximei a lente que tremia, assustada. Encostei-a ao olho direito. Mas ela teimou em colar-se-me ao dedo. Nova tentativa. Novo falhanço. Depois de várias tentativas falhadas lá consegui que a peste ficasse no lugar.
O olho picava. Não lhe passei cartuxo nenhum. Agarrei na outra lente e coloquei-a, sem dificuldade, na vista esquerda. Mas o direito não parava de picar. Olhei o espelho. Nada. Peguei num frasco de soro e afoguei o idiota.
As picadas não passaram e eu resolvi que o melhor seria tirar a lente. De regresso ao espelho, repuxo a pálpebra e ensaio a retirada. Nada. A lente tinha desaparecido! Olhei em frente e confirmei que, naquele olho, nada existia. O mundo encontrava-se dividido em duas partes,uma mais nítida, a outra nem tanto. Voltei a olhar os dedos, não fosse a desgraçada estar para lá colada. Olhei em volta como se fosse possível encontrar uma cabeça de alfinete num chão cor de chumbo.
Foi então que decidi que a lente se tinha extraviado. Abri nova embalagem e coloquei uma outra. Ajudada pela prática a tarefa não se revelou complicada.
Saí para a rua. Meti-me no carro. A dada altura do percurso fui obrigada a olhar o retrovisor esquerdo. O movimento incomodou-me. Algo não estava bem. Baixei a pala que nos proteje do sol e olhei o pequeno espelho.
A lente perdida lá estava, encolhidita, no canto exterior do olho!
Nem eu me percebo!
Puseram-me a cabeça em água. Ele era o home video em altos berros; ele era a aparelhagem; as festas até às tantas da manhã; as gargalhadas a meio da noite… Um desassossego!
Hoje, quando entrei, tinha uma camioneta de mudanças à porta. Na escada cruzei-me com ela de candeeiro na mão. Estão de partida.
Estão de partida! Os estúpidos! Tinham alguma coisa que se ir embora?! Logo agora ,que já me tinha habituado à presença deles!
Fui ao Circo pela "primeira vez"
Esta gente não se limitou a fazer acrobacias ou a entreter os espectadores com a saga palhaço-rico/palhaço-pobre. Esta gente levou-me para um mundo de fantasia, transportou-me para o maravilhoso. E é para isso que o Circo serve.
sexta-feira, 5 de junho de 2009
Só visto...
quinta-feira, 4 de junho de 2009
Verdades
Eu também sou. Porque é que ele não haveria de ser?!
É sempre mais fácil acreditar naquilo que é verdade para nós mesmos e, pela forma como colocamos constantemente em causa a honestidade dos outros, valerá a pena pensarmos se seremos, ou não, um povo de gente honesta.
Não creio que sejamos. Somos um povo de negociantes pintarolas, sempre prontos a puxar a brasa à nossa sardinha, a vigarizar e a enganar, para ganharmos mais meia dúzia de tostões. Somos um povo onde a corrupção não tem dificuldade nenhuma em singrar e, por isso, partimos do princípio que os nossos governantes são como nós, desonestos. Ora se é nisso que acreditamos, será essa a verdade. Quando votamos tendemos a fazê-lo naqueles com quem melhor nos identificamos.
Vale a pena pensar nisto. E vale a pena pensar também que, se calhar, seria uma boa ideia chamarmos a nós todos os escrúpulos, valores morais e integridade que pudermos, antes de ir até lá, pôr a cruzinha em quem quer que seja. São valores que, em maior ou menor quantidade, mais despertos ou mais moribundos, residem dentro de todos nós. Apelemos a eles. Pode ser que um dia tenhamos governantes que dêm muito mais trabalho a toda a Comunicação Social que se alimenta de escândalos.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
"Coisas"...
Depois é a noite. Esta minha “coisa” com a noite. Já pensei em chamar-lhe aversão, mas desisti. Achei demasiado radical. Depois pensei que talvez estivesse, de alguma forma, relacionada com o medo. Aí deixei-me ficar porque não me parece disparatado de todo. Mas, no fundo no fundo, o que se passa é que eu sou uma criatura diurna. Toda a minha natureza está virada para o dia, especialmente para a manhã. Se perco alguma por ter perdido a noite, fico com essa sensação mesmo – de perda. Quando o Sol entra no ocaso entro eu, ou desejo entrar, no acaso dos sonhos. Digamos que, ocasionalmente não entro com ele.
Ontem, ao olhar as fotografias de uma festa onde não estive pensei que, um dia destes, os meus amigos esquecem-se de mim. Todos os sábados tenho para onde ir e nunca vou para lado nenhum. Não à c…que aguente tanta recusa. Começo por decidir que vou. Penso várias vezes nisso durante o dia. Depois vou adiando porque me parece cedo, as festas e os espectáculos são sempre assim um bocadito para o tarde. Deixo-me ficar sentada e, quando chega a hora em que era suposto já lá estar, já não estou. Adormeci ou desinteressei-me. O esforço para sair e lá chegar torna-se impossível e fico a desejar já lá estar sem me ter deslocado.
Muitas vezes ponho-me a imaginar a viagem de volta e os pés, sem eu querer, colam-se-me ao chão.
Enfim, ainda bem que é Verão. Os dias são maiores, as noites muito menos tenebrosas e eu vou começar a sair. Ah pois vou!
terça-feira, 2 de junho de 2009
Neste momento
segunda-feira, 1 de junho de 2009
De um momento para o outro
Se ficam à espera de uma decisão, quando a conhecem exclamam – Então só me dizem agora?! Assim, de um momento para o outro?!
Mas como é que as coisas podem ser ditas sem ser de um momento para o outro?! Às prestações? Do género, tome lá estas duas palavras e volte daqui a uma ou duas horas para as que se seguem. A gaguejar?! A gaguejar também dá. Leva-se tanto tempo a acabar a frase que já ninguém pode dizer que a notícia foi dada de um momento para o outro.
Criaturas, não há nada na vida que não seja de um momento para o outro. Esse é o tempo de tudo – um momento. Num momento estamos vivos. Já no outro…não se sabe.
O que pode dar tempo ao tempo é a preparação das coisas, não a sua ocorrência.
Somos aquilo que acreditamos ser
É preciso muito cuidado com a forma como nos olhamos, com a forma como nos vemos. É preciso cuidado com a imagem que projectamos no espelho. Parece um exercício fácil mas não é. Muitas vezes temos de lutar contra um sem número de vozinhas que nos segredam que não prestamos, que somos uma fraude, que não somos capazes disto ou daquilo, que estamos demasiado velhos, ou que somos demasiado novos, que somos feios, ou que não somos suficientemente bonitos. Enfim, um rol de opiniões que não interessam para nada porque o que na verdade interessa é aquilo em que acreditamos e, isso, com mais ou menos esforço, educa-se. É uma questão de mentalização.
Qualquer um de nós pode ser o que quiser. Basta deixar de dar ouvidos às dúvidas, aos medos e aos outros. Principalmente aos outros. Quer existam fisicamente quer se limitem a ser uma vozinha irritante e redutora a azucrinar-nos a cabeça.
Eu adoptei uma atitude que pretendo impor a todo o momento, esteja onde estiver, e sempre que uma dúvida, um medo ou um idiota qualquer tente abalar a minha estrutura. Ensurdeço, desligo; concentro-me em mim e naquilo que sei que sou, e deixo-me ai ficar até que essa sensação de bem-estar e de confiança deixem de ser sensação e passem a ser eu mesma. Como acredito que é tudo uma questão de treino, há que ser disciplinado e intransigente. Não convém deixar passar nem uma nesguinha de incerteza. Já basta os períodos de terror! Esses sim, dão trabalho com’ó caraças.