O Ser Humano continua a lidar mal com os imprevistos. A palavra “acidente” leva tempo a ser digerida passando por várias fases em que se busca um culpado, um responsável, há mesmo quem diga que os acidentes não existem, existe sim a negligência e, na grande maioria dos casos, a negligência alheia.
Num acidente de viação pode ser a estrada mal sinalizada ou a má condição da via, seja como for a culpa é da entidade que rege as estradas; se cai uma ponte ou uma falésia, a culpa é das autoridades que deviam ter previsto o acontecimento e interditado o acesso; se o acidente é clínico a culpa é do médico que foi negligente. Seja como for a culpa nunca é nossa. Não fomos nós que andámos demasiado depressa; que não passámos cartuxo nenhum aos sinais ou que descurámos a nossa saúde. Não. Foram os outros que não tomaram conta de nós tal como lhes competia. E aceitar que a culpa pode não existir; que é possível que ninguém a tenha; que há coisas que acontecem e pronto, revela-se um exercício carregado de dificuldades. Se algo aconteceu, alguém há-de pagar.
Numa entrevista ao Rádio Clube Português, o actor José Pedro Gomes disse que aquilo que mais lhe agrada na profissão é o facto de tudo estar, à partida, planeado. Não há surpresas. Sabe-se, desde o início, o que vai acontecer e o que A ou B vai fazer ou dizer. Não há lugar para surpresas. O “futuro” já está escrito.
Mas, apesar de haver quem grite aos sete ventos que todos nós somos actores no palco da vida, o facto é que andamos e continuaremos a andar às apalpadelas sem fazer a mínima ideia do que vai acontecer no momento seguinte. E será que não é aí, nessa incerteza, que reside o sal da vida? Que graça teria isto se já todos soubéssemos o que vai acontecer? Não é esse o maior desafio?, a capacidade de lidar com o imprevisto, por muito duro que ele seja?
Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a palavra “acidente” surgiu no séc. XIV, será coincidência ser esse também o século da Peste Negra? Será que esses nossos antepassados se viram tão impossibilitados de controlar o incontrolável que tiveram necessidade de criar uma palavra que descrevesse o que lhes estava a acontecer?, ou foi preciso acontecer uma catástrofe daquela dimensão para o Homem compreender que, na verdade, o seu campo de acção é curto?, tão curto como a nossa visão do mundo?
Pode até ser que, em anos por devir, essa palavra venha a ser esquecida mas, para tal, teremos de expandir substancialmente o nosso campo visual, teremos de realmente relativizar as coisas, de nos relativizar a nós, até obtermos a correcta consciência da nossa dimensão. E, mesmo assim, não creio que o termo deva desaparecer porque acidentes já existiam antes da palavra e continuarão a existir mesmo depois dela. Num Universo em permanente expansão não seremos nós *pico(los) seres que deixaremos algum dia de ser controlados por ele.
*Pico = 10 elevado a -12 (ao que parece ainda não se descobriu nada mais pequeno do que isto…)
Num acidente de viação pode ser a estrada mal sinalizada ou a má condição da via, seja como for a culpa é da entidade que rege as estradas; se cai uma ponte ou uma falésia, a culpa é das autoridades que deviam ter previsto o acontecimento e interditado o acesso; se o acidente é clínico a culpa é do médico que foi negligente. Seja como for a culpa nunca é nossa. Não fomos nós que andámos demasiado depressa; que não passámos cartuxo nenhum aos sinais ou que descurámos a nossa saúde. Não. Foram os outros que não tomaram conta de nós tal como lhes competia. E aceitar que a culpa pode não existir; que é possível que ninguém a tenha; que há coisas que acontecem e pronto, revela-se um exercício carregado de dificuldades. Se algo aconteceu, alguém há-de pagar.
Numa entrevista ao Rádio Clube Português, o actor José Pedro Gomes disse que aquilo que mais lhe agrada na profissão é o facto de tudo estar, à partida, planeado. Não há surpresas. Sabe-se, desde o início, o que vai acontecer e o que A ou B vai fazer ou dizer. Não há lugar para surpresas. O “futuro” já está escrito.
Mas, apesar de haver quem grite aos sete ventos que todos nós somos actores no palco da vida, o facto é que andamos e continuaremos a andar às apalpadelas sem fazer a mínima ideia do que vai acontecer no momento seguinte. E será que não é aí, nessa incerteza, que reside o sal da vida? Que graça teria isto se já todos soubéssemos o que vai acontecer? Não é esse o maior desafio?, a capacidade de lidar com o imprevisto, por muito duro que ele seja?
Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a palavra “acidente” surgiu no séc. XIV, será coincidência ser esse também o século da Peste Negra? Será que esses nossos antepassados se viram tão impossibilitados de controlar o incontrolável que tiveram necessidade de criar uma palavra que descrevesse o que lhes estava a acontecer?, ou foi preciso acontecer uma catástrofe daquela dimensão para o Homem compreender que, na verdade, o seu campo de acção é curto?, tão curto como a nossa visão do mundo?
Pode até ser que, em anos por devir, essa palavra venha a ser esquecida mas, para tal, teremos de expandir substancialmente o nosso campo visual, teremos de realmente relativizar as coisas, de nos relativizar a nós, até obtermos a correcta consciência da nossa dimensão. E, mesmo assim, não creio que o termo deva desaparecer porque acidentes já existiam antes da palavra e continuarão a existir mesmo depois dela. Num Universo em permanente expansão não seremos nós *pico(los) seres que deixaremos algum dia de ser controlados por ele.
*Pico = 10 elevado a -12 (ao que parece ainda não se descobriu nada mais pequeno do que isto…)
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