As realidades mudam mas não tanto com o tempo como nós gostamos de salientar. Mudam com o lugar, com a cultura.
Há gerações que gostam de pensar que “no tempo delas” as coisas eram muito diferentes, as crianças brincavam na rua, não viam tanta televisão, não tinham computador, por isso não passavam tantas horas fechadas em casa.
Eu cresci num sítio de rua. Com ou sem televisão, nós brincávamos na rua – andávamos de bicicleta; trepávamos às árvores e escondíamo-nos no meio do matagal. Isto porque vivíamos rodeados de árvores e de matagal. As minhas primas, pelo contrário, só brincavam assim quando iam de férias para lugares rodeados de matagal, porque em Lisboa, com ou sem televisão, com ou sem computador, brincavam em casa – fosse na delas, fosse na das amigas, brincavam em casa – aos médicos; às famílias; aos professores…em casa.
As gerações mais velhas gostam de criar mitos em torno de si. Talvez isso faça parte da dor de crescer. Talvez seja uma defesa, quem sabe? Uma forma de preservação. Mas, na verdade, as diferenças só existem porque existe distância entre as idades. Se nós mantivéssemos intacta a nossa memória concluiríamos que os nossos filhos passam pelas mesmas coisas que nós passámos, sonham o mesmo, querem o mesmo…a diferença reside apenas na tecnologia que constrói os brinquedos com que brincamos – no tipo de brincadeiras.
O Homem não muda tanto quanto aquilo que nós gostaríamos que mudasse. Não avança, nem regride, tanto quanto gostamos de acreditar que sim porque nos dói sentir que os lugares que vamos deixando para trás não ficam vazios, não sentem, tanto quanto gostaríamos, a nossa falta.
2 comentários:
Hum, que linda reflexão Antígona. Toma sorrisos :):) Há, e breve apito. No caso de disponibilidade para jantarada :):)
Fizeste-me lembrar das subidas às figueiras, onde me empanturrava de figos, com o consequente desarranjo intestinal....:)
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