sábado, 20 de junho de 2009

Amores incondicionais

Não há nada, nada na vida, que nos fique mais gravado do que o amor que vivemos, que trocamos, que sentimos ou que sofremos, enquanto por cá andamos.
Seja a outro ser humano, seja a um animal ou, até, a uma planta. A relação que estabelecemos com aquele ser particular marca-nos para sempre.
Um membro chegado da nossa família não serve. Tem de ser alguém de fora, um estranho, uma visita, alguém que gentilmente acolhemos, que não faz parte do círculo familiar mas que passa a fazer, como um cão.
Eu tive vários. Quando o primeiro entrou pela porta dos meus pais eu já não era criança, o meu irmão sim. Talvez por isso, ou pelo amor que ele sempre nutriu pelos bichos, apegou-se mais a ele do que eu. Depois veio outro, e outro. Chegaram a coabitar três e mais um gato e pássaros, e ratos da índia e sei lá que mais. Houve uma altura em que a casa parecia um jardim zoológico.
Talvez por isso, pela abundância, eu nunca tenha estabelecido, com nenhum deles, uma verdadeira relação de amizade. Por isso, ou pela consciência de que eu ficaria por cá muito depois deles.
Há duas coisas que nos inibem a dádiva e a dedicação – a abundância de objectos e o medo de os perder.
Hoje, quando vejo certos filmes ou leio certos livros, tenho pena que tenha sido assim. Sinto a falta do amigo que não cheguei a ter por não ter sido.
Há coisas que são, de certa forma, irrecuperáveis no tempo. Ainda que em qualquer altura possamos fazer qualquer coisa, é inegável que há idades mais certas do que outras, mais próprias para receber determinadas vivências.
Quando penso nos meus cães e nos momentos que passei com eles lamento não lhes ter sido mais próxima.
O último que fez parte da minha família partiu não há muito tempo. Foi a paixão da minha filha e compreendo-a hoje mais do que nunca. Hoje…um pouco tarde de mais. Ele foi um amigo dedicado. Ele foi o amigo dedicado. Que me fez companhia em muitas horas de tristeza e de solidão. Costumava apoiar o focinho na minha perna e olhar-me com uns olhos ternos ternos, sem pedir nada, sem esperar nada.
Tenho saudades dele e lembro-o mais do que pensei lembrar. Foi um bom cão. Eu fui uma dona sofrível. Valeu-lhe a minha filha que o amou incondicionalmente, como um bom cão merece ser amado.

5 comentários:

meus instantes e momentos disse...

muito bom o texto, gosto daqui.
Tenha um feliz final de semana.
Maurizio

CF disse...

Tenho um desses, na casa dos meus pais. Já chorou comigo mais do que qualquer pessoa. Adoro-o de paixão, e não quero pensar que um dia me pode deixar. Tem dez meses a mais do que o meu filho. Logo viveu a minha gravidez comigo, e adoptou o meu joão com um instinto de protecção formidável e apaixonante. Tem mau feitio, mas é um doce. Tb é um antagónico, pronto... Mas é o meu cão!!!

Goldfish disse...

Já li este texto 4 ou 5 vezes mas ainda não tinha conseguido responder. Acredite que, no mundo em que vivemos, ser uma dona sofrível já é muito, mesmo que eu pense que talvez tenha sido mais do que isso. Os cães são bons a julgar as pessoas e se o seu tinha o amor incondicional da sua filha e continuava a dispensar-lhe atenção a si... é porque a merecia. Quanto às idades para se fazer certas coisas... é verdade, mas só em certa medida; claro que não pode voltar a ser menina e viver como as crianças vivem um cão, mas pode ser feliz e fazer um feliz na mesma! Agora que vai ter uma casa nova, porque não um cãozinho novo também... ;p

Alda Couto disse...

Goldfish, já a minha filha me disse o mesmo :) Um animal é uma grande responsabilidade e uma grande despesa :) Não digo que não pense nisso, de vez em quando :) mas não está nos meus planos mais imediatos :)

Goldfish disse...

Concordo. Se não houver disponibilidade financeira o melhor é nem tentar. Mas havendo continuo a achar que o amor que recebemos é infinitamente maior do que o peso da grande responsabilidade que temos. :)

Não me leve a mal... cada um sabe o que quer e pode fazer em cada momento! O futuro é tão grande! :)