terça-feira, 9 de junho de 2009

Simplicidade

Tem sete anos. É franzino. Baixinho de mais para a idade. Os olhos são muito azuis e o cabelo é tão claro que me faz lembrar aqueles miúdos a quem, no meu tempo de miúda, chamavam “russos de mau pêlo”. Nem o remoinho, mesmo por cima da testa, lhe falta.
- Conheces a Portela? – perguntava-me ele, decidido a que eu “visse” a escola onde tinha andado.
- Sei onde é – respondi.
- Estás a ver esta casa? – continuava ele de mão em concha a bater na mesa. – Viras aqui – e a mão fazia o movimento da viragem. – Aqui há aqueles portões grandes, verdes – as duas mãos ilustraram os portões. – São da escola onde eu andava.
Não pude evitar um sorriso perante a determinação e a confiança com que me mostrava o lugar de onde tinha vindo.
- Depois vais por aqui – e as mãos lá continuavam a explanar no tampo da mesa. – Viras. E estás na minha casa.
Eu acenei e espantei-me! Ele acreditou que eu tinha ficado a saber tudo, tudinho.
É esta a delícia de se ser pequenino.

1 comentário:

CF disse...

A minha avó dizia-me "É tão bom ser pequenino..." Eu não a entendia muito bem, confesso... Hoje elevo essa frase a verdade absoluta...