sexta-feira, 17 de julho de 2009

Impiedosos

É fácil passar de bestial a besta. Nisso somos como as crianças – impiedosos. Derrubamos ídolos mais depressa ainda do que os fabricamos, e fabricamo-los bem depressa. Num momento estamos nas primeiras páginas de todos os jornais, nos écrans de todas as televisões com todo o tempo de antena em horário nobre, e no outro já ninguém se lembra de nós. Somos cruéis para com aqueles que idolatramos em demasia mas somos cruéis porque vivemos num tempo de pouca exigência e quem sobe com pouco cai com menos ainda.
Não há muito tempo o Herman José era o maior comediante que alguma vez pisou os estúdios da nossa televisão. Ele era inteligente, capaz, inédito em muito daquilo que fazia. Ele era Bestial.
Hoje não passa de uma Besta. Grosseiro, vulgar, preterido.
Eu faço parte do grupo que gostou muito e depois deixou de gostar e hoje, ao ver aquele anúncio em que ele aparece como Diácono Remédios lembrei-me do quanto eu gostava dele, do quanto o apreciava, e questionei-me sobre o que é que tinha acontecido com ele para eu ter deixado tanto de gostar. Tanto ao ponto de não ter um pingo de pachorra para o ouvir a dizer fosse o que fosse. Senti-me injusta. Senti que ninguém passa assim de um extremo ao outro e, se calhar, todos merecem pelo menos a oportunidade do meio termo. Agora, que passou a zanga da desilusão.
E o Herman nem sequer é o melhor exemplo daquilo que tenho estado a dizer apesar de ter sido ele a suscitar em mim este monólogo. Pior pior é o Cristiano, Deus o livre de não fazer uma temporada exemplar que toda aquela carneirada (desculpem-me o termo mas não me ocorre nenhum mais apropriado) que lhe venerou os passos no campo do Real Madrid será a primeira a atirar-lhe calhaus que o arrumarão num instantinho. Ele que se cuide…

Sem comentários: