quinta-feira, 2 de julho de 2009

Mudam-se os tempos...

Se de Inverno só ando bem de calças, de Verão só ando bem de saias.

Este é um dos privilégios de ser mulher.

Lembro-me que não há tanto tempo assim, se fosse há muito eu já seria velha e não sou, era praticamente proibido as mulheres vestirem calças. Isso mesmo, proibido. Não podíamos ir de calças para a escola! Não podíamos entrar de calças numa igreja e se uma mulher andasse com as ditas pela rua ou no mercado não faltariam olhares daqueles que só não matam se não os virmos.

Nas escolas havia ginástica para todos mas os equipamentos femininos eram constituídos por saias por baixo das quais se vestiam uns culottes da mesma cor, horrorosos, largos e cheios de elásticos para confundir os olhares na hora de fazer o pino.

Era rara a mulher que trabalhava e poucas as que estudavam, a 4ª classe como escolaridade mínima não se aplicava às mulheres. Se uma mulher quisesse sair do país precisava de uma autorização do pai ou do marido, até porque não tinha direito a passaporte independente. Tal como as crianças, figurava no passaporte do chefe de família. O voto foi, como muitas outras coisas, uma conquista pós 25 de Abril.

Quanto a salários iguais para cargos e responsabilidades iguais, acredito que ainda temos muita luta pela frente porque uma coisa é a teoria, outra a prática.

As mulheres foram submissas durante muitos séculos. Já o não são. Pelo menos na teoria…

O facto é que as histórias de violência doméstica continuam a existir e em gente que não viveu nada disto. Mulheres novas que se deixam violentar, física e psicologicamente, acreditando tratar-se de uma fase que passará.

Nós temos uma memória à qual há quem chame “de espécie”. Nos genes que nos vão sendo transmitidos vêm recordações que não são nossas, dizem. Por outro lado há ainda quem acredite na reencarnação e nas marcas que ficam de todas as experiências vividas nas vidas anteriores. Seja de uma forma ou de outra, ou de ambas, penso que é indiscutível que nos nossos subconscientes habitam saberes e viveres mais vastos do que aqueles que os nossos conscientes alcançam. Talvez seja aí que reside a revolta das mulheres bem como a sua tendência para confundirem amor com submissão.

E é nesta dicotomia que vivemos ainda. No meio deste antagonismo amor/ódio.

Há quem afirme peremptoriamente que as mulheres são tão responsáveis como os homens pela sua condição ao longo dos tempos. Pode haver alguma verdade aí, ou talvez não…mas isso ficará para um outro texto, que este já vai longo.

3 comentários:

Goldfish disse...

Achei curioso, pouco tempo depois de ter chegado a Amsterdão, ter descuberto que aqui os homens não "se metem" com as mulheres ou, pelo menos, não antes de receberem da parte delas um sinal de aceitação. Pelo menos foi o que me disseram e o que é facto é que não presenciei ainda nada do que é costume em Lisboa. É visto como um abuso, uma intromissão que pode ser indesejada, própria dos "machos latinos" que costumam habitar de França para baixo... O conceito de submissão por aqui não reina.

Alda Couto disse...

Eu sei :) Mas já reinou :) reinou em todo o mundo. Radicalizou-se e enraízou-se mais nos países católicos.

Aeroporto de Alcochete disse...

Apesar de vermos as coisas distorcidas pelas paredes do aquário temos de nos recordar que em Amsterdão, e noutros locais muito civilizados, ainda podemos comprar mulherio exposto em montras.
Ora, quem precisa de se meter com quem?