terça-feira, 29 de setembro de 2009

Do extraordinário número de coisas que podem e cabem num espaço de 24 horas

Preâmbulo

Ontem, tendo-se o meu filho deslocado ao Centro de Saúde para tirar os pontos que ficaram de 3 sinais extraídos, acabou por se demorar por lá por via de uma dor forte que lhe tolheu o peito e o assustou.
Visto pela médica de serviço, foi-lhe administrada uma injecção – relaxante muscular, que muito o aliviou. À noite, sentindo-se como novo, decidiu ir ao cinema com os amigos. Saiu de casa por volta das 9h com a costumeira promessa, nunca cumprida, de não chegar muito tarde. Eu, cansada como estava, fui cedo para a cama.

Era praticamente meia-noite quando um sonho perturbador me acordou. Não foi a primeira vez mas, controlada, decidi ser falso alarme e tentar adormecer. Dormi aos soluços. Levantei-me por volta das duas e tal da manhã, a caminho da casa-de-banho não vi o D. no quarto dele – Raio do puto vem sempre às tantas!, pensei. E voltei a deitar-me. Às 5h30 levantei-me outra vez – o quarto vazio! Ó diabo!, aqui há gato!.. Corri para o telefone. Uma mensagem dizia – Ainda estou no Hospital. Não vi as anteriores. Carreguei na tecla verde.
Do outro lado uma voz um pouco abatida, rodeada de tosses cavernosas! Estou aqui desde as 11h da noite!, Porque é que não ligaste?! Mandei mensagem! Não vi!
Já me fizeram isto aquilo e aqueloutro. Como te sentes?, Mais ao menos, ainda tenho a dor. O que te fizeram? Ligaram-me a um frasco que pinga pinga e puseram-me no meio de um freakshow! Vou já para aí! Não venhas, vou já sair. Então sai. Deixa-me falar com a enfermeira. Ó mãe tem calma, vou já sair.

6h da manhã, volto a carregar na tecla verde. Já vou a caminho, diz ele.

6h15, entra em casa a tresandar a Hospital. Deito a mão aos exames. Todos normais. Diagnóstico 0. A dor – a mesma! Muda de roupa, vamos à CUF. Não, e a voz era sumida, já chega de Hospital, preciso de dormir. E despe-se, e deita-se. Eu deambulo pela casa sem saber o que fazer.

6h45, dorme sossegado, de barriga para cima. Ponho-lhe a mão na testa, está fresca. Ressona.

Vou à teórica, pensei eu, que é das 9h às 10h e falo com a professora por causa da prática. Ele descansa e eu não falto.

7h45, saio de casa.

7h55, IC20 cheia! Um acidente com direito a carro de bombeiros e duas ambulâncias! Três carros enfeixados, um deles em muito mau estado.

Ligo ao ex., ponho-o ao corrente da situação. Passado algum tempo recebo um sms– Não fico muito sossegado com ele sozinho em casa. Eu também não! A partir daquele momento!.. A meio do tabuleiro da ponte pouco se pode fazer, sigo caminho.

Antes de entrar falo à prof. Não posso de maneira nenhuma vir à prática! Explico-lhe a situação. Tente dar cá um salto enquanto a aula dura, só para apresentar o trabalho, despacho-a em meia-hora. Fica combinado.

Assisto à teórica de coração nas mãos. Quero ligar mas não ligo porque ele precisa de descansar. No meu coração sei que é isso que se passa, tal como soube à meia-noite que outra coisa se passava…

Psicologia – fala-se de Piaget e das várias fases do crescimento. Começa-se do princípio – recém-nascidos. Tomo consciência da quantidade de disparates que fiz quando aos 22 anos fui mãe pela primeira vez. Vêm-me as lágrimas aos olhos.

Entro no carro e ligo para a minha filha, peço-lhe desculpa por tanto disparate, digo-lhe o quanto gosto dela e sigo em direcção à Ponte 25 de Abril.

Pelo caminho ligo para o benjamim, ele atende, fala comigo meio-acordado, meio-a-dormir. Como está a dor? Na mesma… Veste-te, vamos à CUF. Não quero… Quero eu!

10h30, entro em casa. Agarro nos exames feitos durante a noite no Hospital – ECG; Ecocardiograma; análises; RX Tórax. Tiro-o da cama. Enquanto ele se veste eu estendo a roupa que tinha ficado a lavar, aquela que cheirava a hospital…

11h, CUF- Infante Santo – mais exames; observação cuidada como se esperava… Diagnóstico – lesão traumática torácica com alguma gravidade. Mais uma injecção.

13h, tolhidos de fome metemo-nos no carro. Está na hora da prática de Psicologia. Estão 3 pessoas à minha espera para apresentar um trabalho. Sigo para a Faculdade. O D. fica no carro à espera. Não dorme.

13h30, o trabalho é apresentado, corre bem, segue-se discussão.

14h, saio. O D. liga para o restaurante e encomenda o almoço. Praça de Espanha…Ponte 25 de Abril…IC20…

14h30, estamos sentados a almoçar. Comemos como se não houvesse amanhã!

15h15, algo não está bem na minha boca. Tacteio-a com a língua – mais de metade de um dente desapareceu!, devo tê-lo engolido…

Ligo para a minha sócia, tenho de ir às compras, não tenho nada em casa e o D. não pode ir trabalhar nos próximos dias. Não se preocupe, diz ela, está tudo sob controle.

Paramos na farmácia; seguimos para o Jumbo. Ele diz que não se sente bem para se enfiar no super-mercado. Diz que precisa de ir comprar não sei o quê não sei a que loja. Ficamos de nos encontrar à saída do super. Despacho as compras mas quando saio não o vejo. Levo as compras para o carro, arrumo-as no porta-bagagens e dele nem sombras. Volto a subir, espreito o Jumbo; passo pela Fnac, pergunto por ele – já cá esteve há coisa de 10 minutos, dizem-me. Tento ligar, o telefone está desligado – com a bateria viciada basta uma noite sem carga e apaga-se…; volto a descer, ele não está no carro; volto a subir, sinto as forças a faltarem e não o vejo em lado nenhum!, há meia-hora que arrumei as compras no automóvel! Subo o tapete rolante pela quarta vez, deixei de sentir o chão, parece que pairo… Ele lá está, à minha procura como eu à dele, na porta do Jumbo…


5 comentários:

CF disse...

Ufa Antígona... Isto de ser mãe é tramado. A minha querida avó dizia que ser mãe era a melhor e a pior coisa do mundo. Não a percebia. Hoje, já não lho posso dizer, mas entendo-a na perfeição. Oh se entendo. Espero que tudo fique bem :)

Maria_S disse...

Ufa fiquei cansada :). As melhoras. Bjs.

Anónimo disse...

Parece quase uma cena de um filme dos irmãos Cohen. Mas este tipo de histórias só fica bem no ecrã de cinema, no mundo real não têm muita graça.

As melhoras e talvez esse tenha sido o tal dia em que nada corre como devia a que temos direito de vez em quando.

Amanhã só pode melhorar.

Sputnick disse...

Vou telefonar-te!!!!

Mariana disse...

que dia! mas já sei que correu tudo pelo melhor! Um beijinhooo**