quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Contradições

Dizia-me ontem um rapaz de onze anos que, por motivos de força maior, passa a maior parte do tempo sozinho:
- Eu venho todos os dias.
E eu a tentar explicar-lhe que todos os dias não seria possível já que nós não iríamos estar abertos todos os dias, porque era Natal, e tal...
- Eu venho todos os dias. A mãe vai estar de serviço no Natal e até nos anos dela...Eu VENHO TODOS OS DIAS. Venho logo de manhã e depois piro-me. Assim fico com o resto do dia para mim. Mas venho todos os dias.
E eu olhava para ele a fingir que não via as lágrimas que teimavam em se mostrar, mesmo à entrada dos olhos.
- Mas olha que todos os dias não vai dar. Fazemos assim...
E ele continuava a olhar para mim sem me ouvir para afirmar depois da minha explicação:
- Eu venho todos os dias, logo de manhãzinha. A que horas abrem?
- Às nove.
- Às nove estou aqui.
- Está bem - acabei eu por dizer. - Logo ligo à tua mãe e a gente combina isso.
Ao fim do dia perguntava a minha colega, com ar de quem não percebe:
- Mas porque é que queres vir logo de manhã?
- Para me despachar depressa - respondia ele.

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