segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O que nos afasta

Os homens não gostam das mulheres. Talvez já tenham gostado, não sei. Mas agora não gostam. Exceptuando as filhas. Essas são, na sua maioria, verdadeiramente amadas pelos pais, talvez porque são a prova provada da sua virilidade incontestável.
Antigamente a doçura, a submissão e a ignorância das mulheres faziam-nas amadas. Eram seres frágeis, a proteger. Seres que a toda a hora testemunhavam a força, a capacidade, a virilidade do homem. Por sua vez elas amavam também. Apaixonavam-se pela protecção que recebiam e pela tranquilidade que ela lhes dava. Acreditavam na superioridade dos seus companheiros, na sua magnificiência, na sua sabedoria. Entregavam-lhes as suas vidas e quando, por qualquer motivo, se sentiam ludibriadas, tinham medo de o expressar e guardavam o seu descontentamento, a sua desilusão, até ao sufoco.
Hoje são os homens que se sentem ludibriados. Perdidos entre a imagem ainda fresca, afinal um século não é nada, da mulher dócil e submissa; carinhosa e compreensiva e esta, da mulher exigente e lutadora, mais capaz que muitos deles. Esta, da mulher que não confirma a todo o momento a sua extraordinária virilidade, se é que a confirma alguma vez.
A partir do momento em que a humanidade compreendeu o papel que o homem desempenha na procriação, carregou sobre o sexo masculino uma responsabilidade que extravasa, muitas vezes, a sua competência. Até a sua vontade. Deu-se ao sexo uma importância primordial, creio que com Freud a encabeçar a dita, e agora todos nós sofremos com esta incapacidade de comunicarmos uns com os outros, de nos conhecermos, de nos darmos, de confiarmos, de nos amarmos.

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