Como é que um país cheio de sol, com uma luz como há poucos, gerou um povo tão cinzento?
De onde nos vem tanta tristeza? Tanta ausência de alegria!
As crianças arrastam-se para as escolas. Os adultos para o trabalho. Se algum entusiasmo se sente, pela manhã, ele não está no trabalho em si mas nas pessoas que lá vamos encontrar. Sei de alguém, uma só, que chorava nas férias porque sentia saudades de sítio onde trabalhava. Na verdade sentia saudades do chefe por quem se tinha apaixonado.
Não conseguimos encontrar alegria em nada que façamos. Não conseguimos encontrar recompensa.
Pagamos pelos bens essenciais tanto quanto os outros mas usufruímos de salários que envergonham qualquer um. Nada nos resta que possamos usar em nosso proveito. Sentimo-nos parte de uma engrenagem sem sentido. Lutamos hoje. Para quê? Para podermos continuar a lutar amanhã.
- A vida é uma luta - já diziam os avós, e os avós dos avós e continuamos nós a dizer o mesmo.
Talvez ela deixe de ser uma luta quando deixarmos de o afirmar. Quando nos recusarmos a que seja.
Talvez que sejamos um povo que precisa de algum individualismo. Talvez que sejamos um povo que se perde nas massas. Talvez que devessemos olhar para cada um de nós, para cada uma das nossas crianças e tentar perceber o que nos faria, o que as faria, felizes. Completas. Realizadas.
Como é que uma geração de gente cinzenta pode entusiasmar as camadas mais jovens sem lhes transmitir este cinzentismo? Como iremos nós quebrar esta merda desta corrente?
Quantos de nós responde, quando lhe perguntam como vai?, com um sorriso nos lábios, com um olhar verdadeiro - estou bem, está tudo muito bem.
O olhar é sempre triste. A voz acabrunhada. Cá vamos, puxando a carroça...
Que carroça? Desde quando a vida é uma carroça?! Mas isto faz algum sentido?! O que raio andamos cá a fazer? Então e aquela obrigação que dizem termos, de sermos felizes?!
Depois admiram-se que andemos todos doentes e que as depressões abundem nesta terra de tanto sol e tanta luz...
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