quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Obesidades

Existem dois tipos de obesidade. Aquele em que as pessoas ocupam fisicamente mais espaço do que o que seria desejável e aquele em que as pessoas ocupam todos os espaços.
O primeiro tipo, a obesidade física, abrange mais de um milhão e meio de portugueses mas trata-se com algumas idas ao nutricionista e uma reaprendizagem do acto de bem se alimentar.
O segundo tipo, a obesidade de carácter, é muito, mas muito mais complicado. Primeiro porque não há estatísticas que nos demonstrem a gravidade do problema e, acreditem, ele é grave -trata-se de uma doença que tende a propagar-se e que se não atingiu já o estatuto de pandemia estará por lá muito próximo. Em segundo lugar, e este está directamente ligado ao primeiro, tratando-se de uma doença tão generalizada as pessoas tendem a considerá-la uma parte dos chamados ossos do ofício de quem é humano.
Mas não é. Não é uma parte dos ossos do ofício de se ser humano porque nas épocas e nos lugares onde a educação e o respeito costumavam ser características importantes e, essas sim, dadas como normais, aqueles que sofriam de obesidade de carácter eram tão constantemente reprovados que cedo acabavam por desistir da prática e, tratando-se de uma doença possível de controlar quando é atacada no início, a coisa nunca se propagava por aí além.
Não se sabe o que aconteceu nem quando aconteceu. Sabe-se porém que, à traição, despercebidamente, as pessoas desataram a ocupar todos os espaços. Talvez tenham começado por deixar marcas nos espaços alheios - roupas espalhadas; pégadas de lama; pequenos objectos a despropósito, e depois tenham pensado que já que deixavam também podiam ir buscar. E foram. E vão.
Mais grave ainda é a aflição que isso causa em toda a gente. É de tal forma que andamos todos a exagerar na nossa individualidade só porque a sentimos ameaçada. Vai daí, é bordoada a torto e a direito. Uns a quererem tirar, os outros a quererem conservar. Uns a quererem ir, outros a quererem estar.
A agravar esta situação temos ainda o facto de uns terem muito e os outros não terem quase nada.
Enfim, ponham-se a pau, podemos estar a caminhar para uma guerra civil...

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