terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Carta Aberta a Fernando Dacosta

Caríssimo Senhor,
Antes de mais um muito obrigada pel'Os Mal Amados. Há muito tempo que um livro não me levava do princípio ao fim quase sem respirar.
No início temi que a minha motivação se prendesse com algum saudosismo, alguma nostalgia. Depressa percebi que afinal se prendia com as revelações e com o efeito que elas sempre têm - uma certa abertura de consciência; o ressurgir de verdades abafadas; a vitória sobre o medo de pensar.
Vivemos num mundo tão globalmente denso e povoado que nada do que foi se poderá repetir. Nem o bom, nem o mau. O planeta mudará de côr e com ele o próprio universo. Cabe aos excelsos guardiões da História a tarefa da memória, pois sem ela não há futuro.
Se alguns de vós foram esquecidos, é só porque chegaram a ter voz. O Fernando faz parte, ainda, de uma geração a quem foi permitido ter voz, uma voz clara, consciente, verdadeira e nobre. Sobretudo nobre. Para as gerações que se lhe seguiram já tudo "pia mais fino". Nem a nobreza e nem a consciência fazem parte dos interesses das massas. Valham-nos os blogues que serão, estou certa, preciosas fontes para a História a escrever. Será através deles, de todos estes anónimos, que a História será escrita. Será em torno deles que os nossos vindouros tentarão compreender estas novas indumentárias de mais uma Idade Média.
Que Deus lhe dê forças, a si e a mais meia dúzia, se tanto, para que, antes de partirem, possam ir sussurando (porque gritar será difícil), o tanto que sabem. Que possam continuar a dar voz aos verdadeiramente visionários que se foram. Que as vossas obras perdurem no tempo.
Ámen.

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