A dois passos do destino a mão mergulha na mala, convicta de que facilmente encontrará o objecto que procura. Afinal cada objecto tem o seu espaço e a mão já os conhece todos.
De um lado a cosmética: baton; blush; sombra de olhos; creme de mãos; sabão fingido; toalhitas; outro baton, este para o cieiro; escova de cabelo; um desinfectante de mãos; estojo de unhas.
Os lenços de papel estão numa bolsa à parte, como os telemóveis.
Do outro lado os objectos de uso prático: óculos (para ler, para não ler, para o sol); chaves (de casa, do escritório, do carro); canetas; um pinchavelho para pendurar a mala; um canivete; uma pequena lanterna (pois é...nunca se sabe...); luvas.
Ao centro, sempre protegidos pelo éclair: a carteira (sempre enorme, carregada de cartões, de tiquetes e de papéis, mais do que de notas); o porta moedas; a agenda; os livros de cheques; o bloco de apontamentos.
E lá anda a mão a vaguear no meio daquilo tudo. No momento em que chega ao destino já puxou para fora dois molhos de chaves que não são. Com alguma estranheza decide-se a tirar a mala do ombro para a poder abrir. Os olhos perscrutam-na no meio de alguma escuridão provocada pela profundidade. Uma das mãos vasculha-a enquanto a outra a sustém.
Cada vez mais incrédula, procura-se um apoio - um muro, um degrau, um patamar ou corrimão, qualquer coisa que anule aquela profundidade toda.
A mala alarga. Encurta e alarga. Agora tudo parece mais fácil, mais exposto. Agora são as duas mãos que vasculham em gestos já a atirar para o desespero. A vontade de virar aquilo tudo ao contrário aumenta. Olha-se em volta e conclui-se que é chato. A largura do muro não abarcaria tanta coisa. Não nos apetece andar de rabo para o ar à procura de coisas que já nem nos lembrávamos que tínhamos dentro da mala.
É nesse momento que o coração bate mais rápido, o momento em concluímos que a chave, aquela chave, não está lá.
Volta-se para trás.
Provavelmente ficou dentro da outra mala. Aquela que usámos ontem.
3 comentários:
Lol, pois que de ter sido isso mesmo!!!!
lolololol
Já me aconteceu isso com a chave do carro, mas achei que atinha perddo e corri tudo (inclusive um bar onde tinha estado na noite anterior) à procura e nada. pois claro, estava na outra mala.
revi me neste momento... e como é frustante quando chegamos ao ponto de virar a mala ao contrario! De fora claro esta visto assim agora tem imensa piada, adorei o post!
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