quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

D. José Policarpo - Um post que era para ser um comentário e depois não foi (Gumex este era só para ti)

Esta é uma das muitas vantagens de se viver em liberdade.
O poder expressar livremente as nossas opiniões é um luxo que não existe em todas as culturas e creio que não existe, de todo, na muçulmana.
A chamada de atenção de D. José Policarpo, por muito que a queiramos ver como política, ou estratégica, ou afins, é, acredito, sincera, sentida e pensada, provavelmente cheia de boa vontade. Se uma amiga minha me viesse dizer que ia casar com um muçulmano eu alertá-la-ia exactamente para o mesmo.Veja-se a quantidade de mulheres que ficaram sem os filhos ou sem liberdade por não terem sido devidamente informadas sobre as regras implícitas num casamento dessa natureza.

7 comentários:

Anónimo disse...

Porque é que hoje em dia quando se dizem coisas destas, que podem ser um aviso verdadeiro a quem se quer meter nelas, cai logo o Carmo e a Trindade em cima?

Miguel Joao Ferreira disse...

Ora, como dizia o Estripador, vamos por partes:

A primeira coisa que tem de ser dita é que o meu post está muito mal escrito. Tenho de o re-escrever e nao tenho tido muito tempo.

A segunda é que eu concordo em absoluto com o que disse o Sr. Policarpo - dispenso-lhe o D. por casmurrice minha de nao aceitar os títulos da Instituiçao que é a Igreja.

A terceira é que conheço de perto muitas das vicissitudes do tema:

3a) Sou dos poucos portugueses de quem o Sr. Policarpo fala que efectivamente leu o Al-Coran

3b) Vivi com diversos muçulmanos - marroquinos, Bangladesh, Índia e Moçambique, a quem massacrei com perguntas (para eles parvas e aborrecidas).

3c) A minha irma mais velha casou-se com um, de quem depois (muito pouco tempo depois) se divorciou, precisamente por causa da matéria de sarilhos implicitamente contida nesse aviso policarpiano.

A quarta coisa, porém, é que, apesar de concordar com o Sr. Policarpo, há algo que deve ser tido em conta:

Ele nao falou como José Policarpo, mas como Cardeal Patriarca e Bispo da Diocese de Lisboa, um representante máximo da Igreja Católica em Portugal e uma das figuras mais importantes da Igreja Católica tout court. Esteve inclusive considerado como sucessor de Joao Paulo II.
Isto adquire portanto para mim esta simplicidade:

Na qualidade de cidadao a quem se pede opiniao, admiro a frontalidade do comentário que está de acordo, inclusive (e que nao estivesse), com o meu modo de pensar.

Na qualidade de Cardeal Patriarca, as suas afirmaçoes sao irresponsáveis e inadmissíveis e o seu comentário é, inevitavelmente (quer se queira quer nao), político. Porque, na hora, ele nao era José Policarpo cidadao, mas José Policarpo representante de toda uma ideologia, uma Instituiçao e de um conjunto de fieis que está a evangelizar e influenciar de forma que, mais cedo ou mais tarde, será no mínimo deturpada por pessoas ignorantes, simples e de natureza já facilmente intolerante.
José Policarpo é dos homens mais cultos e inteligentes da nossa sociedade. Nao consigo crer que ele tivesse sido inconsciente ao ponto de nao saber o que dizia e as consequencias politicas, sociais, culturais e etceterais que, naquele contexto, teriam as suas afirmaçoes. A alternativa à ausência desta hipótese é ele ter tido a intençao completa de dizer o que disse para produzir o resultado que produziu e para excitar de novo certas paixoes, ao jeito medieval, restituindo assim vitalidade a uma moribunda instituiçao católica.

Há, in extremis, uma terceira hipótese: O homem está velho e cansado, já construiu o seu caminho, nao tem muito mais aspiraçoes "de carreira" e como tal ja nao se preocupa em omitir os seus verdadeiros pensamentos. E como disse no post, com um superior como Ratzinger a dizer o que diz de homossexuais e florestas amazónicas, nao é difícil sentir as costas quentes. Há uns anos atrás, um Cardeal que dissesse isto poderia bem passar a pao e água e servir hósteas na paróquia de Bucelas.

Sinais dos tempos?

Para terminar, registe-se que sou suspeito nas minhas opinioes: Tive educaçao católica, fui à catequese, fiz primeira comunhao, fiz crisma, fui acólito, li a Bíblia e depois vi que Deus era tao real (para mim) quanto as sereias e ninfas dos meus desenhos. Deus náo é compatível com a razao, e eu prefiro pensar.
Escolhas, naturalmente.

A Bíblia e o Corao nao deixam de ser livros lindíssimos se se virem como histórias e metáforas para sermos e vivermos melhores (ou simplesmente pelo prazer de ouvirmos/lermos uma boa história) mas tornam-se perigosos e tacanhos se levados à letra. O problema das religioes é que metáforas sao levadas à letra por pessoas a quem acima de tudo falta educaçao, espírito livre e a aprendizagem do exercício de pensar.

Obrigado pelo teu comentário, A. :-) Pena que o texto estivesse tao mau quando lá foste :-D. Mas nao há-de acontecer muitas vezes ;-)

bj,
M.

Alda Couto disse...

Maria - é porque está na moda o "politicamente correcto"...

Miguel - não me pareceu que o post estivesse mal escrito (o teu) mas, se estava, este comentário já sanou a falta de qualidade :):).

Miguel Joao Ferreira disse...

Engrandecido :-)
De qq modo, e porque sou teimoso, reeescrevi completamente o meu, remetendo-o no fim, para este teu post com respectivos comentários. Parece-me mais coerente.

Miguel Joao Ferreira disse...

Acrescento um último ponto, que antes me ficou esquecido: Que autoridade tem a Igreja Católica para falar do fundamentalismo islâmico, na contemplação de todos os fundamentalismos da sua História e de todos os dogmas que também eles conservam e defendem? Há pontos que nenhum dos lados quer ceder. Depois fala em dificuldade de diálogo? Que diálogo? O diálogo que têm, cada um asinamente puxando para seu lado o cesto das hortaliças, faz-me lembrar o que pode ser possível entre um falante regular e um surdo mudo. O primeiro, fala como sabe, por palavras e pomposidades. O segundo fala como pode, com gestoes e gemidos. Depois trocam. O que fala com palavras tem um surdo a ouvi-lo, o que fala com gestos teum um cego a vê-lo ou alguém que vê aquilo como quem lê mandarim ou um malabarista no circo...
De facto, assim, tenho de convir, Sr. "Patriarca", é "defícil"...

Alda Couto disse...

Talvez seja, mais ou menos assim. Todos aqueles que defendem uma ideia, uma política ou uma religião tendem a puxar a brasa à sua sardinha. O certo é que há sempre uns mais fundamentalistas que outros. E isso não creio que se prenda com a religião em si, mas com a personalidade de cada um e com os grupos que se formam em torno dessa personalidade.
A igreja católica já teve a sua inquisição. Já não tem. Agora é a vez de certas facções islamicas. O prblema destes fundamentalismos é o rasto que deixam...

Miguel Joao Ferreira disse...

Acho que estás cheia de razão. Concordo contigo em absoluto (mas não a 100%) :-P Mesmo hoje, e apesar de ter como dizes mudado o desiquilíbrio da balança no que a fundamentalismos diz respeito, ainda há muitos na Igreja Católica e, caramba!, os tipos são superlativamente retrógrados!! Faz confusão! Nunca é demais lembrar:

"Salvar a Humanidade dos homossexuais, é equivalente a salvar as florestas da destruição" - Facilmente porias isto na boca de um árabe. E no entanto, foi um tal senhor Ratzinger... Diz que é Papa e tal...

(E não faltam pérolas afins).