É pena. É pena que sejamos todos surdos à experiência alheia. É pena que a nossa cultura tenha vindo, ao longo dos tempos, a perder o respeito pela sabedoria dos velhos.
Está bem que eles não percebem nada de tecnologia. Está bem que andam um pouco desfazados da realidade. Mas também ,a realidade, essa realidade, a tecnológica e tudo e tudo, muda todos os dias! Quem em seu perfeito juizo consegue acompanhar tudo, tudinho?!
É pena. É pena, mesmo. Porque estou convicta que por muito e depressa que isto mude, por dentro nós continuamos os mesmos e, à medida que o tempo passa, acabaremos por juntar aos sentimentos próprios dos velhos a sensação de que podíamos muito bem ter visto, realmente visto, mais cedo. Bastava para isso um pouco de paciência e muito, muito respeito.
Tudo isto porque acabei de dar atenção a um pequeno livro de poesia que uma velhota, cheia de carinho e simpatia, me deixou aqui. Trata-se de uma edição que não sendo de autor, é de amigo digamos assim, e os poemas foram escritos por uma irmã desta senhora. Não se pense que foram escritos ao longo da vida. Não. Os mais antigos são de finais da década de 1990. A autora está com oitenta anos. Digamos que virou poeta depois dos setenta. Uma senhora que nasceu no Lavre em 1926. Que tirou a quarta classe. Que teve uma vida simples e que se orgulha de ter sido regente primária (designação que se dava aos professores primários antigamente).
Esta mulher de oitenta anos, não quer ser esquecida. Quer que a sua História sirva para alguma coisa. E serviria. Ó se serviria! Bastaria um pouco de paciência para a ler e alguma humildade para a escutar.
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