quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A minha costela de Gaulesa ou de como as senhas numeradas podem muito bem não servir para nada

No passado dia cinco, dia em que se deu, oficialmente, início a este novo ano, tirei da minha caixa de correio um aviso para ir levantar, na estação dos CTT mais próxima da residência, uma carta registada. Virei o postal várias vezes e o único nome que vi foi o nome do meu senhorio.
- Pronto - pensei de imediato, - ou é para rescindir o contrato ou é aumento de renda. Entre um e outro, venha o diabo e escolha.
Já mal dormi nessa noite.
No dia seguinte, como quem não quer a coisa, atirei com o aviso para dentro da mala e fiz todos os possíveis para me esquecer dele. O estupor gritou de lá de dentro o dia inteiro!
Sem alternativa de jeito, rumei esta manhã para a tal estação.
Seriam talvez umas dez e meia quando por lá entrei. Aproximadamente setenta metros quadrados de sala. Cinco postos de atendimento divididos por uma coluna. Dois para um lado. Três para o outro.
Tiro uma senha. É o setenta e três.
Olho o mostrador. Vai no setenta e um. Passa rapidamente para o setenta e dois.
Setenta e três. Sigo com o olhar a linha do número - posto dois. Contorno a coluna. Apresso o passo para o posto dois. Olho. Uma senhora está a ser atendida e várias notas estão espalhadas pelo balcão.
- Desculpe. Não chamou o setenta e três? - perguntei cheia de boa vontade.
- Chamei mas ninguém apareceu! - responde-me a funcionária.
De olhos esbugalhados e em toda a minha incredulidade exclamei:
- Mas eu estou aqui!
Diz a outra que estava a ser atendida:
- Eu sou o setenta e um.
- Mas então se é o setenta e um porque é que chamou o setenta e três?!
E foi no meio desta troca de impressões que o aviso sonoro se fez ouvir e eu olhei para o painel donde sorria, feliz, o número setenta e quatro. Num rápido e já prático relance alcanço com a vista o número do posto de atendimento - quatro. Corro para o lado de lá da coluna. É claro que o setenta e quatro já tinha começado a ser atendido. Obrigada! Aquilo é chegar, estender o papel e lá vai o funcionário ao armazém buscar o que for preciso.
- Eu sou o setenta e três - reclamo já pelos cabelos.
- Agora tem de esperar um pouco. Tem de ter paciência. Já comecei a atender este senhor.
Danada, começo a tentar explicar que é a eles que lhes cabe a organização imposta pelos tiqués no momento em que a campainha volta a soar. Setenta e cinco. Posto número dois. Saio disparada, de papel em punho e quase grito:
- Não me diga que ainda não é desta?!
- É preciso paciência. Tem de se ter um pouco de paciência - murmurava o funcionário do posto dois, como que a pôr à prova a minha capacidade de resistência.
Foi no momento em que elevei mesmo a voz que uma senhora atrás de mim exclama:
- Mas tem toda a razão. Eles não dão tempo a nada! Tem toda a razão!
Eu estendo o aviso ao funcionário.
- Assine aqui - pede-me ele.
Eu assino.
Ele pede-me o b.i., volta a estender-me o aviso e diz:
- Preciso da assinatura deste senhor.
"Este senhor", é o meu senhorio.
-Porquê?! - exclamo.
- Porque a carta é para ele - responde o funcionário.
O meu filho diz que eu ultimamente ando com o complexo gaulês.
- Estás sempre à espera que o céu te caia em cima - diz ele.

1 comentário:

Leididi disse...

lollllllllllllllllllllll os funcionários dos correios são uns filhos da mãe, chatos e antipáticos. E geralmente, apesar de terem 5 balcões, só 2 é que funcionam.O Mano é o maior!!Essa do complexo gaulês é óptima!