O meu irmão faz hoje 47 anos.
Crescemos juntos, eu e ele. Ainda me lembro da gravidez da minha mãe. Lembro-me de um vizinho que sempre que me via me perguntava se o bebé já tinha chegado para ele o ir buscar. Lembro-me da aflição em que isso me punha. Pensar que alguém mo pudesse tirar. Lembro-me de dormirmos no mesmo quarto. Lembro-me de o ver em pé, agarrado às grades azuis da sua pequena cama. Lembro-me das sestas a que a nossa mãe nos obrigava. Lembro-me de uma queda feia que ele deu e dos meus pés mal pousarem no chão porque não se podia fazer barulho quando saiu do hospital. Lembro-me das batalhas que fazíamos com pequenos soldados de plástico. Lembro-me de um prego que ele espetou num calcanhar quando usava ainda aquelas pequenas sandálias de criança que deixam os calcanhares desprotegidos.
Lembro-me de o ver subir mais alto do que um autocarro quando foi atropelado, mesmo ali, à minha frente.
Tenho ainda muito presente a sua figura de rapaz de 13 anos sentado num corredor de hospital, encostado a uma parede desfeito em lágrimas quando o nosso pai adoeceu.
Lembro-me da sua primeira bebedeira.
Ainda sinto um aperto no coração quando recordo o seu debilitado caminhar para me receber numa enfermaria do hospital onde ele próprio foi internado de urgência.
Mas, sobretudo, lembro-me da forma como sempre estivemos ao lado um do outro. Da forma como sempre nos defendemos. Do medo que ele tinha quando, nos passeios de família, olhava para trás e não me via. Lembro-me das brigas que tínhamos e do horror que sentíamos se algum de nós acabasse castigado por causa delas. De todos os Natais que passámos juntos, das confidencias, dos segredos que guardámos. Do amor que sempre sentimos um pelo outro. E do orgulho que sentimos hoje, por termos ultrapassado tanta coisa. Por termos, cada um à sua maneira, vencido.
Tenho bem presentes as saudades que senti quando ele partiu para a Holanda, e a alegria que sentimos quando eu lá cheguei.
Lembro-me do apartamento que partilhámos num Inverno rigorosíssimo e da caravana onde passámos a viver quando chegou o Verão.
Ele ficou por lá. Eu voltei em 1980. Não há distância que nos afaste um do outro. Vimo-nos todos os anos. Falamos quase todas as semanas.
Por todas as aventuras e desventuras por que passámos, por tudo aquilo que continuamos a partilhar, se um dia eu voltar a nascer, é a ele que quero ter como irmão.
Crescemos juntos, eu e ele. Ainda me lembro da gravidez da minha mãe. Lembro-me de um vizinho que sempre que me via me perguntava se o bebé já tinha chegado para ele o ir buscar. Lembro-me da aflição em que isso me punha. Pensar que alguém mo pudesse tirar. Lembro-me de dormirmos no mesmo quarto. Lembro-me de o ver em pé, agarrado às grades azuis da sua pequena cama. Lembro-me das sestas a que a nossa mãe nos obrigava. Lembro-me de uma queda feia que ele deu e dos meus pés mal pousarem no chão porque não se podia fazer barulho quando saiu do hospital. Lembro-me das batalhas que fazíamos com pequenos soldados de plástico. Lembro-me de um prego que ele espetou num calcanhar quando usava ainda aquelas pequenas sandálias de criança que deixam os calcanhares desprotegidos.
Lembro-me de o ver subir mais alto do que um autocarro quando foi atropelado, mesmo ali, à minha frente.
Tenho ainda muito presente a sua figura de rapaz de 13 anos sentado num corredor de hospital, encostado a uma parede desfeito em lágrimas quando o nosso pai adoeceu.
Lembro-me da sua primeira bebedeira.
Ainda sinto um aperto no coração quando recordo o seu debilitado caminhar para me receber numa enfermaria do hospital onde ele próprio foi internado de urgência.
Mas, sobretudo, lembro-me da forma como sempre estivemos ao lado um do outro. Da forma como sempre nos defendemos. Do medo que ele tinha quando, nos passeios de família, olhava para trás e não me via. Lembro-me das brigas que tínhamos e do horror que sentíamos se algum de nós acabasse castigado por causa delas. De todos os Natais que passámos juntos, das confidencias, dos segredos que guardámos. Do amor que sempre sentimos um pelo outro. E do orgulho que sentimos hoje, por termos ultrapassado tanta coisa. Por termos, cada um à sua maneira, vencido.
Tenho bem presentes as saudades que senti quando ele partiu para a Holanda, e a alegria que sentimos quando eu lá cheguei.
Lembro-me do apartamento que partilhámos num Inverno rigorosíssimo e da caravana onde passámos a viver quando chegou o Verão.
Ele ficou por lá. Eu voltei em 1980. Não há distância que nos afaste um do outro. Vimo-nos todos os anos. Falamos quase todas as semanas.
Por todas as aventuras e desventuras por que passámos, por tudo aquilo que continuamos a partilhar, se um dia eu voltar a nascer, é a ele que quero ter como irmão.
2 comentários:
Oh pá, que até fiquei meia comovida! Está lindo. Eu também queria um irmão que me escrevesse uma coisa assim bonita, mas como o meu é desnaturado, tá de chuva. Parabéns, tio. E agora despacha-te e põe pés ao caminho que a malta tem saudades tuas.
Provavalmente vais ter de esperar mais uns anitos :)
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