Uma amiga muito querida, com quem gosto de conversar, fazia-me no outro dia uma síntese da sua vida para me explicar a natureza da sua necessidade, ou falta dela, relativamente ao sexo oposto.
Dizia-me ela:
«Aos vinte e quatro anos juntei os trapinhos com uma paixão antiga. Dois ou três anos depois casámo-nos.
Num dia de mudanças, para o andar que ele já tinha comprado havia alguns meses mas cujo prédio ainda estava em obras, passei com o jeep por cima de uma tábua cheia de pregos e furei um dos pneus. Ele virou-se para mim e disse, "Agora mudas tu o pneu." Fiquei atónita a olhar para ele e para o pneu, absolutamente gigantesco, tentando perceber se o meu fresco marido estava a falar tão a sério quanto a sua expressão transparecia.
É claro que não troquei esse pneu, por pura incapacidade física.
Mais tarde voltei a ter um furo, no meu carro, e, em consequência do meu atrevido pedido de ajuda, levei roda de incompetente, de atadinha e de mais um ou dois predicados típicos daqueles que não sabem dar valor à ocupação dos cônjuges e à sua, inerente, indisponibilidade.
A partir daí nunca mais voltei a pedir ajuda a ninguém. Garanto-te que já devo ter mudado, ao longo da vida, bem uma dezena de pneus.
Passados uns anos o meu marido encantou-se com uma colega de trabalho e, depois de várias peripécias, acabou por sair de casa.
Nos anos que se seguiram eu liquidei a dívida da casa ao banco, acabei de pagar o meu carro, entrei para a faculdade mas, acima de tudo - pendurei sanefas que caíram; tapei buracos de paredes; arranjei móveis e máquinas; troquei lâmpadas e mudei candeeiros impossíveis. Despedi a empregada e passei a governar-me a mim e aos meus filhos.
Vens tu falar-me na necessidade de ter um homem em casa!»
Não me digas que não sentes a falta, insistia eu.
«Só se for de alguém que tenha aprendido a cozinhar, a tratar da roupa, a limpar a casa e a ir às compras, como eu aprendi a mudar pneus, a pregar sanefas, a arranjar máquinas e a tapar buracos.» Concluiu ela.
E com esta me vou.
4 comentários:
Há aqui exactamente algo de essencial para compreender os outros, sobretudo se forem do sexo que nos atrai ( expressão usada para não ferir susceptibilidades : ) ).
Primeiro, devemos prepararmo-nos devidamente a ponto de pensar que somos auto-suficientes.
Depois, nas pequenas coisas que temos e que nos sobram, pensar em partilhá-las com alguém. Se puderem ser todas e as secretas também, óptimo.
Finalmente, se procuramos alguém com a necessidade de obter algo, talvez seja melhor aplicar a lei de mercado e pensar na escolha entre fazer ou comprar?
Esta história não me é nada estranha.esse marido era do melhor (dá-me ideia que foi mal habituado... ou treinado, vá) Eu cá, quando preciso de mudar um pneu, peço a um gajo qualquer que vá a passar na rua. Faço o meu melhor sorriso, um certo ar de perdida e de menina, e é vê-los cair que nem patinhos. Tansos (mas queridos). E não sujo as mãos. Se algum dia isto falhar, chama-se o reboque, ou coisa que valha. Pneus é que não. Mas também sei tapar bracos em paredes, pregar pregos e parafusos (fazer furos de berbequim) mudar lâmpadas e desentupir canos.
Desntupir canos! Esqueci-me dessa!
Berbequins venham eles.
E também sei mudar arrancadores :):)
Já sei que vou levar na cabeça depois de 3 comentários, do que suponho, serem de mulheres.
Nem todos os homens são assim!
E a reacção é autosuficiência feminina ?
Avaliação do que é que compensa? (fazer ou comprar)?
Usar e abusar dos homens ( ao cativar os "tansos" )com um sorriso enquanto lhes for conveniente?
Partilha, meninas, partilha das coisas boas e coisas más.
António Carlos
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