sábado, 2 de maio de 2009

Lugares

Olho o carro que passa. E o casal que leva dentro.
Eu já estive ali.
Aquele outro, na mesa da esplanada; no banco de jardim; no passeio, de mão dada.
Eu também já estive ali.
O homem que gesticula. A mulher que não o vê.
Os gritos de quem se zanga. Os olhos de quem não crê.
Já lá estive. E não fiquei.
Só não estive muito tempo, no silêncio, sossegada.
Só não estive muito tempo naquele lugar onde as palavras se dispensam porque nada acrescentam à comunicação. Naquele lugar em que o mundo todo pode ruir porque se sabe que não será em cima da nossa cabeça. E, mesmo que seja, alguém está lá para afastar os escombros. Naquele lugar em que o riso se solta a uma só voz e as lágrimas também. Naquele lugar onde o entendimento não é inventado porque existe, é natural. Naquele lugar onde tudo se sente leve, mesmo que não o seja. Onde tudo parece simples, mesmo que não se veja.
É para aí que quero ir. É aí que quero estar. Aí quero ficar.
Nesse lugar.

Sem comentários: